Desanuviando

(The Madonna of Port Lligat, Salvador Dali)

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As moças que trabalham no salão onde faço unha disseram que mães prestes a dar à luz resolvem fazer “serviço completo” no dia em que o bebê vai nascer. Explico melhor: as mães sabem que o filho está para nascer, mas não têm certeza do dia. Mas no dia em que elas acordam inspiradas para ir ao salão e se cuidar da cabeça aos pés (cabelo, sobrancelha, buço, depilação completa, unha da mão e do pé), horas mais tarde, o filho nasce. As moças do salão até já previnem a futura mãe: “acordou inspirada para fazer tudo no salão, então se prepare que o seu filho nasce hoje!” As clientes riem, as chamam de bruxas, mas depois de um ou dois meses vêm perguntar: “como é que vocês adivinharam que o meu filho ia nascer naquele dia?”.

Não é que elas adivinhem; elas já sabem. Nós, mulheres, mesmo as que nunca tiveram filho, sabemos o que é isso: intuição feminina. No fundo, a mãe sabe que está se preparando para um acontecimento importante: a chegada do filho. E é por isso que ela acorda inspirada e resolve se arrumar toda.

Hoje, meus amigos, estamos no último mês de gestação do novo ano. Em algumas semanas ele nasce. E eu sei que no dia 31 de dezembro vou acordar inspirada e querer me arrumar. Vou escolher a roupa certa, a cor da roupa (a cor-símbolo do que desejo para o próximo ano; acho que vou com roupa colorida...), arrumar o cabelo, escolher o perfume e o batom certos. Farei tudo isso no dia em que o ano novo vai nascer, mas me dei conta de que ainda preciso arrumar outras coisas. Me propus a começar a limpeza de certos (in)cômodos, aqueles que às vezes são negligenciados por nós mesmos. E como limpezas desse tipo demandam paciência e carinho, começo o meu “serviço completo” agora, e aos poucos. Esses cômodos não podem ser esquecidos por muito tempo; volta e meia devemos ajeitá-los. Por isso, os quero polidos e limpos para os novos móveis que virão, os novos visitantes, os novos “eus”.

Por esse motivo, saio de licença. Para preparar a chegada do novo ano.