<$BlogRSDURL$>

quarta-feira, novembro 30, 2005

VASILISSA ou Vasalissa, ou seja lá como traduzem esse nome.
.
Depois de ter colocado a imagem do conto Vasilissa (no dia 27 de outubro), procurei ele pela internet, mas não o encontrei.

Ontem, por uma grande “coincidência”, achei uma análise do conto num livro que havia aqui em casa. Uma análise dirigida às mulheres e mais: junguiana – o que a torna ainda mais interessante.

Como o texto é grande, vou copiar apenas o trecho que lembra o desenho de Ivan Bilibin:

É verdade, não vou mentir para vocês. É mais fácil jogar fora a luz e ir dormir. É verdade que é bem difícil segurar a luz da caveira à nossa frente em algumas ocasiões. Pois, com ela, vemos nitidamente todos aspectos de nós mesmas e dos outros, tanto os deformados quanto os divinos, além de todas as condições intermediárias.

Mesmo assim, com essa luz, chegam ao nível da consciência os milagres da profunda beleza que existe no mundo e nos seres humanos. Com essa luz penetrante, pode-se ver do outro lado da má ação um coração generoso; pode-se vislumbrar um espírito delicado esmagado sob o ódio; pode-se entender muito em vez de apenas sentir perplexidade. Essa luz pode discriminar camadas distintas da personalidade, das intenções e das motivações nos outros. Ela pode determinar o consciente e o inconsciente em nós mesmas e nos outros. É a varinha de condão do conhecimento. É o espelho no qual se pressente tudo. É a profunda natureza selvagem.

Não obstante, há horas em que suas informações são dolorosas e quase insuportáveis; pois a caveira aponta para o lugar onde se trama a traição, onde a coragem falta àqueles que dizem o contrário. Ela denuncia a inveja oculta como gordura fria por trás de um sorriso de carinho. Ela indica os olhares que são meras máscaras para a aversão. No que diz respeito a nós mesmas, sua luz brilha com a mesma intensidade: ela ilumina nossos tesouros bem como nossas fraquezas.

São esses conhecimentos que são mais difíceis de encarar. É nesse ponto que sempre temos vontade de jogar fora essa maldita perspicácia nossa. É aí que, se não quisermos ignora-la, sentimos uma força poderosa proveniente do Self, dizendo, “Não me jogue fora. Fique comigo. Vai ser bom para você.”

Enquanto Vasalisa avança floresta adentro, ela sem dúvida está pensando também na família da madrasta, que perversamente a mandou sair para a morte; e, muito embora ela própria tenha um coração generoso, a caveira não é generosa. Sua função é a de ter plena visão. Por isso, quando Vasalisa quer se desfazer dela, sabemos que a menina está pensando na dor provocada por se ter conhecimento de determinadas coisas a respeito de nós mesmas, a respeito dos outros e da natureza do mundo.
(CLARISSA PINKOLA ESTÉS)
.

segunda-feira, novembro 28, 2005

OS POSTS ESTÃO NAS RUAS

Sabe como encontrar um post prontinho na rua? Simples: só abrir os olhos e andar distraído!

No dia 26 de agosto de 2003, escrevi, aqui no Desanuviando, o que tinha visto na rua:

“Um mendigo catando lixo, com o seu cachorro pulguento, e cantando:
Deixa a vida me levar, vida leva eu...
Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu."

Alguns meses depois, vi novamente esse mendigo, mas descobri que ele, na verdade, está acima do mendigo na hierarquia social: é um catador de papelão. Descobri também que ou ele mora no meu bairro ou sempre vem catar papelão aqui, e que ele não é acompanhado por apenas um, mas quatro vira-latas.

Um dia, quando estava fazendo a unha, ele e seus cachorros passaram pelo salão e uma senhora comentou o que os antigos costumavam dizer aqui no Sul: “Todo mendigo tem um vira-lata. É São Francisco que promove essa união para que alguém cuide dos animais da rua.”

Pensei comigo que aquele catador deveria ser um dono muito carinhoso para São Francisco ter enviado logo quatro cães.

Isso foi o que pensei no ano passado e é o que continuo pensando depois do que aconteceu essa semana.

Minha faxineira começou a trabalhar na casa de uma psicóloga, no Centro da cidade. Essa psicóloga tem um casal de amigos que são donos de um Yorkshire. Há duas semanas, por uma desatenção do dono, o Yorkshire sumiu. Nunca tive cachorro, mas posso imaginar a tristeza que é perder um.

Pois bem, este casal espalhou alguns cartazes com a foto do cão e até deixou um aviso no supermercado próximo à minha casa.

Uma semana depois – na semana passada – ligaram do orelhão desse supermercado para o casal.

Adivinhem quem era??? O catador de papelão!

Ele tinha encontrado o cachorrinho na rua e ficado com pena, por isso resolveu cuidar dele. Quando viu o aviso no supermercado, achou que os donos estariam preocupados e ligou para eles.

Os donos, obviamente, ficaram contentíssimos e até quiseram pagar uma recompensa, mas...o catador de papelão recusou! Disse que se um dia ele perdesse um de seus cachorros, também gostaria que o encontrassem e o devolvessem.
.
Ótimo, não? E lembrem que foi ele quem ouvi cantando Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu.

***********************************************

Perguntas minhas, sem respostas:

- Minha casa é próxima ao Centro da cidade, lugar onde o Yorkshire desapareceu, mas é preciso atravessar uma ponte. Pergunto: quem atravessou a ponte primeiro? O cachorro ou o catador de papelão?

- E se o catador de papelão for o próprio São Francisco de Assis? (Atenção, céticos, eu os proíbo de exprimir qualquer comentário!!)

- Se bem que São Francisco de Assis não usaria “dreads” nos cabelos... Ou seria um toque de contemporaneidade?

************************************************

Ah, preciso dizer por que os posts estão nas ruas?
.

sexta-feira, novembro 25, 2005

.
OS POSTS ESTÃO NAS RUAS - E NÃO COBRAM IMPOSTO!
.
(Amanhã explico melhor.)
.

quinta-feira, novembro 24, 2005

GREVE DAS UNIVERSIDADES
.
Dois amigos conversando:
- O perigo da greve é que a gente se dá conta de que é muito melhor estudar em casa.
- Mas o melhor de tudo é que o Brasil fica mais produtivo.
- Como assim?
- Muita gente começa a trabalhar enquanto as aulas não voltam.
.
MUDÉRNOS
.
Meus avós entraram no MSN. Daqui a pouco vão entrar no ORKUT e criar a comunidade dos "avós".
Se é que já não existe.
.
E DEFINITIVAMENTE,
.
como dizia Paulo Mendes Campos, viver é falar de forca em casa de enforcado. Ai, ai...
.

segunda-feira, novembro 21, 2005

BORBOLETA DE PLÁSTICO ROSA

Image hosted by Photobucket.com

Hoje, por uns instantes, tive saudades de mim com seis anos. Só porque meu irmão perguntou se eu já tinha visto uma casa de João de Barro.
.
Sim, eu já vi. Quando tinha seis anos, na minha sala de aula havia uma estante e, sobre ela, além de alguns livros para criança, havia uma casa de João de Barro vazia.
.
Meus amigos e eu (melhor dizer: meus “amiguinhos” e eu) gostávamos de colocar a mão lá dentro e fingir que tínhamos encontrado o João de Barro ou , então, que o João de Barro tinha prendido a nossa mão para sempre. (Incrível como essa lembrança ficou adormecida por todos esses anos.)
.
Não tinha um dia em que não tocávamos naquela casinha de barro. E se um dia aparecesse o dono dela? A gente aprendendo a ler e o pássaro ali dentro, brincando de casinha...
.
Nessa idade, eu também tinha uma borboleta de plástico rosa. Ela ficava junto com o meu pé de feijão (era mágico plantar feijão no algodão!), na área de serviço do meu apartamento. Todos os dias, ia cuidar da planta e da borboleta.
.
No último dia de aula, não lembro há quanto tempo já vinha planejando, levei a borboleta para o colégio. Quando acabou a aula, dei um jeito de ir discretamente até a casa do João de Barro e a deixei lá dentro. Não contei isso para ninguém. Um aluno, no próximo ano, certamente colocaria a mão ali e encontraria a minha borboleta.
.
Na hora do almoço, voltei para casa, olhei para o pé de feijão sozinho e senti falta da borboleta, mas me resignei, pois o motivo era nobre: fazer alguém encontrar uma borboleta rosa dentro de uma casa de João de Barro!
.
De tarde, meu pai me levou ao clube para brincar na piscina e eu fingi que brincava para ninguém notar que, na verdade, estava devaneando sobre o futuro da borboleta.
.
Ah, menina, agora, passada a recordação, fiquei curiosa para saber o fim da nossa borboleta.
.

domingo, novembro 20, 2005

Image hosted by Photobucket.com

.
No filme MENSAGEM PARA VOCÊ, o personagem do Tom Hanks diz que O PODEROSO CHEFÃO é um oráculo, pois tem todas as respostas para os problemas da vida (Não é pessoal, são negócios, Vá para a arena etc).

Ontem me dei conta de que o LUNA DE AVELLANEDA se transformou no meu oráculo. Passei a manhã conversando com uma pessoa que também gosta desse filme e volta e meia uma frase do filme vinha se “encaixar” direitinho no que estávamos conversando. Por exemplo: essa pessoa me contava que o pai de um certo escritor teve que se aposentar cedo por motivos de saúde e, conseqüentemente, passou o maior tempo da vida em casa, inventando brincadeiras para os filhos. Ele me contou isso, pois estávamos falando sobre a mania que muitos têm em buscar prestígio profissional, social etc e que aquilo que o pai desse escritor fez pode não ter nenhum valor para muita gente. Então, a frase do LUNA que veio foi: ¿Pero que valor puede tener eso desde la razón?, frase que o Román diz para o advogado durante a assembléia que decidirá o futuro do clube. Para vocês entenderem a situação, o Román está defendendo a recuperação do clube e pergunta para os pragmáticos da vida: ¿Pero qué valor puede tener eso desde la razón? ¿Qué valor puede tener conocer a un tipo como Don Aquiles? ¿O ser amigo de Emilio? Seguro que no tanto como el laburo que vos proponés.

Logo em seguida, essa pessoa e eu passamos por um homem na rua, no momento em que ele arrotava bem forte. Nós nos olhamos e dissemos: ¡Eso es felicidad!, nos lembrando da frase dita pelo porco do Amadeo quando solta um peido (foi ‘peido’ porque foi barulhento! Se fosse suave, seria flatulência - mais educado!) no sofá do seu apartamento.

Depois, em mais uma hora de conversa, nos lembramos da idéia ingênua do Román e da analogia que o advogado faz com os emails que os internautas se encaminham para acabar com a guerra do Iraque, chegando a pedir a assinatura de quarenta milhões de pessoas que querem a paz: La macana es que Bush se caga en esos cuarenta millones.

Outra frase que apareceu foi quando essa pessoa e eu começamos a discordar de uma coisa e quando vi que ela tinha razão, disse, imitando o ar de resignação do Román: Tiene razón, tiene razón, no puedo decir nada porque tiene razón. E olhando para o seu rosto disse: Tenés razón.

E até o final da manhã, mais algumas foram ditas, sempre complementando o que estávamos falando: Dalma es más que una gran estrella; acá es feliz; Descubrí que puedo vivir sin cable, sin video, ..., pero no puedo vivir sin la admiración de mi mujer y de mi hijo, mis hijos.; Y porque tenemos poco, hacemos poco. Y queremos poco.; Tenés rico olor, papi.; Bueno, bueno, bueno (falando bem ligeiro, como se fosse uma única palavra, para chamar a atenção do público: buenobuenobueno).
.
Foi engraçado. Até poderiam pensar que nossa conversa foi toda direcionada pelas frases do filme, mas foram elas que nos acompanharam e mesmo quando estou sozinha, uma dessas frases vem complementar o que estou pensando. Até os palavrões do filme, até os comentários engraçados, até os tristes. ...Y para la madre que lo parió; ¿Qué me importa?; ¡Siga el baile, siga el baile!; ¡Subí, subí, subí, aaah!; Tres cosas fundamentales: no pedís nada, no comprás nada, no tocás nada. (Esse último me veio ontem, quando passei, no Centro, por uma mãe que dizia para a filha pequena: Não vou comprar nada! Nem adianta insistir!)
.
Isso é o que acontece depois de ter visto cinco vezes o mesmo filme em menos de dois meses.
.

sábado, novembro 19, 2005

UMA FRESTA NA AUSÊNCIA

Um dos grupos mais agradáveis com que já convivi até hoje era composto por 41 pessoas, com faixa etária que variava dos 16 aos 60 anos, e fizemos juntos uma viagem de 25 horas de ônibus. Dessas 41 pessoas, conhecia apenas 3, assim que as 38 restantes eram totalmente desconhecidas para mim.

Agora comecem a juntar os fatos: viagem de ônibus, 25 horas dentro dele, 41 pessoas desconhecidas, idades diferentes. Daria até para fazer um “reality show” com tanta possibilidade de intriga.

Mas logo na ida, essa hipótese se mostrou improvável devido ao primeiro incidente da viagem (ou à maneira como ele foi solucionado): uma senhora tinha esquecido a carteira de identidade e seu passaporte estava com validade vencida. Como precisávamos de um dos dois para passar pela aduana, ficamos quatro horas parados e chegamos ao nosso destino muito mais tarde do que o previsto.

E o que quero dizer com isso? Que se todos tivéssemos reclamado do descuido dela, teríamos tido toda a razão. Mas, por incrível que pareça, em vez de darmos vida a um murmurinho, metade do grupo se prontificou a ajudá-la e a outra metade encontrou maneiras de se distrair durante aquele tempo.

Pode ter sido a empolgação da viagem que nos fez tão tolerantes naquele momento, mas aquilo me marcou bastante, pois não se sentir abandonado, nem criticado por causa de um erro cometido e, mais ainda, se sentir ajudado quando poderiam alegar que somente ela – a pessoa culpada – deveria resolver tudo é um grande conforto, seja lá qual for a situação.

p.s. e concluindo: Só para informar, quando resolveram o problema, assim que a senhora entrou no ônibus, todos a aplaudiram e, a partir desse instante, as 41 pessoas começaram a se entrosar e ficaram bastante amigas durante toda a viagem. Depois, a dificuldade que surgiu foi a de agüentar a saudade que viria inevitavelmente. Culpa de todos.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter