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sexta-feira, julho 31, 2009

O MUNDO (FEMININO) PRECISA DESSAS COISAS
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Se fosse escrever para uma daquelas revistas que não gosto (aquelas "TU S/A" etc), falaria sobre uma cabeleireira que conheci ontem. Ela atende na casa dela e disse que foi a melhor coisa que fez na vida, pois pôde conciliar a atenção aos filhos com o trabalho que adora fazer. Aliás, ela disse que ama cabelo e que, no caso dela, só pode ser dom porque, quando pequena, no sítio onde ia (ou morava, não lembro) com a família, via a mãe cortando o cabelo de todos os trabalhadores de lá e ficava fascinada. Ela via e pedia pra mãe se podia cortar também. A princípio, a mãe relutou, mas depois acabou deixando. Então ela é que começou a cortar o cabelo de todos. Perguntei se eles não tinham medo de uma criança cortar o cabelo deles, e ela disse que não; eles aceitavam, e o corte era simples, não tinha nada de extravagente.
Depois ela me contou sobre os cursos que fez. O seu favorito? O da L'Oreal. E ama todos os produtos dessa marca.
Perguntei o que ela gosta de fazer no cabelo. Ela respondeu: "gosto de tudo o que cuida e trata do cabelo; detesto tudo o que prejudica." "Por isso", disse ela, "não faço chapinha, nem alisamento. Cabelo deve ser tratado com muito carinho". E que carinho! A escova que ela faz - o único "alisamento" que pode ser feito sem prejudicar o cabelo, desde que não seja feita todos os dias - é de uma delicadeza só. E enquanto ela faz a escova, ela vai dando mil dicas de cuidados, de cremes, de formas de pentear e arrumar nosso tipo de cabelo, além de esclarecer, com muita segurança, nossas dúvidas.
A "consulta" ocorre sem pressa. Ela disse que não tem vontade de abrir um salão por causa disso: em casa, ela faz o seu próprio horário e não precisa correr pra atender todas as clientes. Ela gosta de dar a máxima atenção ao cabelo que está sob seus cuidados.
As clientes saem de lá satisfeitas. De manhã, ela tinha atendido uma antiga cliente que está morando em Porto Alegre. Viajou para cá e fez questão de retocar o penteado. Eu sou lá da Minha Aldeia e, estando aqui (*), fui convencida a conhecer essa cabeleireira. Quando saí, meu único lamento foi este: saber que, quando voltar, vai ser difícil achar uma cabeleireira igual.
Os leitores do Desanuviando devem ter torcido o nariz já no primeiro parágrafo deste post. Mas as leitoras terão compreendido. Achar alguém que nos ajude com o nosso cabelo, que o valorize, que cuide dele, se mantenha firme em não fazer o que todos os salões têm feito e, ainda por cima, que nos trate de forma única, e não como "mais uma cliente", é o que toda mulher quer.
Aliás, é o que todos gostaríamos de ter: lugares onde vamos, aprendemos, nos sentimos enlevados por uma áurea de satisação - por causa da satisfação de quem fez o trabalho - e saímos nos sentindo bem. Coisa simples, sem grandezas excepcionais, que me lembram daquele poema do Carlos Drummond de Andrade, o RECEITA DE ANO NOVO. Não precisamos de muita pirotecnia na vida. Precisamos é das intenções que colocamos nas pequenas coisas - clichê? mas quem realmente se esforça por isso? - Do espírito renovado que nós podemos renovar a cada dia, com cada pessoa, com cada tarefa. (...) novo / até no coração das coisas menos percebidas / (a começar pelo seu interior) / novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, / mas com ele se come, se passeia, / se ama, se compreende, se trabalha, como disse Drummond.
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(*) É, ainda não voltei para a Minha Aldeia.
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PARA O KIKO, QUE DEVE COMEÇAR UM NOVO ANO EM AGOSTO:
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(...)
Para ganhar um Ano Novo / que mereça este nome, / você, meu caro, tem de merecê-lo, / tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, / mas tente, experimente, consciente. / É dentro de você que o Ano Novo / cochila e espera desde sempre. (RECEITA DE ANO NOVO, C.D.A.)
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quinta-feira, julho 30, 2009

CONTINUAÇÃO DE A CAUSA DE JANE AUSTEN, de Lêdo Ivo:
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Procedendo sempre, como todos os ficcionistas legítimos, a uma interação do imaginário com o documental, a uma fusão da vida larga e acordada com o sonho particular que guarda os grandes segredos da vida, e temperando o seu sólido e sadio realismo com elementos cômicos ou burlescos, Jane Austen faz respirar, neste A Abadia de Northanger, uma das mais vívidas reflexões sobre a arte do romance e o papel do romancista, ao estabelecer o cotejo, nas peripécias de sua personagem principal, entre o universo do imaginário e a vida real. As vicissitudes vividas por Catherine Morland, sob o império de suas leituras do romance gótico, especialmente das horripilantes histórias de terror e mistério da Sra. Radcliffe (autora de Os Mistérios de Udolfo e O Italiano), testemunham, decerto, a força de contágio da ficção na vida real. Mas, se Jane Austen de um lado satiriza o romance negro – que voltou a reconquistar o seu lugar perdido, neste tempo dos assassinos, como diria Rimbaud, em que vivemos todos – do outro ela procede a um dos mais certeiros e comoventes elogios que um romancista já fez ao seu e nosso ofício. Denuncia os inimigos do romance, quase tão numerosos como os seus leitores. E, reconhecendo que “nenhuma espécie de composição tem sido tão escaenecida como a nossa”, celebra no romance “a mais completa ciência da natureza humana”.
Este malicioso e delicado A Abadia de Northanger haverá de convidar o leitor a reconhecer que ninguém perde seu tempo lendo romances. Antes o ganha, já que a arte de ver e narrar de Jane Austen, unindo a imaginação à memória, resgata a vida de seu próprio e inevitável olvido. O destempo mais uma vez volta a ser “Le vierge, le vivace et le bel aujourd’hui” festejado por Mallarmé. A vida guardada pela arte fiel que nega o esquecimento e a morte não está perdida. Ela será sempre reencontrada pelo leitor que, ouvindo um rumor de cabriolé, a música de um baile ou o vento contra uma janela, sabe mais uma vez que está lendo um romance, no dia infindável. E no silêncio dessa fidelidade ouvimos todos a voz de Jane Austen, como uma advertência e uma profissão de fé: “Não desertemos de nossa própria causa”. E esta é, também, a causa do leitor.
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quarta-feira, julho 29, 2009

DIGNÍSSIMA, SEMPRE
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Acabei de ler, há poucos minutos, o livro A ABADIA DE NORTHANGER, da digníssima Jane Austen, e guardo o meu comentário final, aquele mais geral, para 31 de agosto, como está combinado no grupo CHÁ COM JANE AUSTEN. Mas não posso deixar de adiantar algumas admirações.
Comecei detestando esse livro, que só retratava mediocridade: a heroína ingênua que só pensa na roupa que vai usar no baile seguinte e no rapaz que ela achou interessante, e sua amiga, que é falsa, vazia, extremamente ordinária e me dava nos nervos. Mas Jane Austen escreve tudo isso tão bem, de forma tão elegante...E foi assim o livro todo. Do começo ao fim. Então, novamente, me rendi à digníssima: ela mostra como é possível transfigurar até a situação mais medíocre. No caso dela, ela o faz com o seu talento: a escrita. E isso me deu consolo: pois apesar de toda aquela vidinha vazia (nesse romance, nem a heroína tem qualidades como as grandes Elizabeth e Elinor), eu consegui permanecer naquele lugar, com aquelas pessoas.
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Conclusão dos botões: precisamos de pessoas que usem seus talentos para transfigurar realidades inóspitas.
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Como disse, esse comentário foi curto. O comentário maior, aquele final, fica para agosto.
É que não queria deixar essas primeiras impressões se perderem.
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A outra metade do texto de Lêdo Ivo vem no próximo post! Sem falta!
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segunda-feira, julho 27, 2009

A ABADIA DE NORTHANGER, de Jane Austen
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O texto abaixo está na minha edição (da Editora Francisco Alves) de A ABADIA DE NORTHANGER. A tradução é de Lêdo Ivo e foi ele próprio quem escreveu o que se segue. Hoje vai a primeira metade do texto; no próximo post vai a outra metade. Pessoal do CHÁ COM JANE AUSTEN já recebeu!
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A CAUSA DE JANE AUSTEN
(Lêdo Ivo)
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Sob uma laje negra, repousa na Abadia de Winchester a autora deste livro, a romancista inglesa Jane Austen, nascida em 1775 e falecida em 1817.
Não é sem razão que seus romances são amados no mundo inteiro. Jane Austen praticou a mais pura forma de romance de costumes e caracteres de que temos notícia. Tudo em suas narrativas é simples e correntio, mas convém que o leitor não se deixe enganar por essa simplicidade, que semi-esconde uma maestria sem rupturas, a gentileza de uma arte fina e apurada. Romancista da vida doméstica, das ilusões e desilusões que atravessam a vida, Jane Austen mostra que a intriga romanesca habita qualquer aqui e agora, sem privilégios ou exclusões.
Há, em todos os seus romances, em Emma ou Persuasão, em Orgulho e Preconceito ou Mansfield Park, um elemento de crítica que não é apenas de natureza social, mas se volta para o procedimento moral dos personagens com a sua reflexão e preceito. Integrante da grande tradição realista da literatura ocidental que vê no romance um espelho da vida, Jane Austen não separa, em suas histórias, a psicologia e o costume, a paixão das criaturas e os cenários em que elas se movem. Assim, de acordo com a lição perene de Stendhal, ela se engasta no elenco dos romancistas que são observadores do coração humano.
Escrito em 1798, mas editado somente em 1818, um ano após sua morte (pois passou vinte anos na gaveta de um editor que não sabia jogar na baixa), este A Abadia de Northanger é um dos mais belos livros dessa grande escritora sempre sensível à hora e ao lugar e que, em sua comédia romanesca, soube transportar para a arte o estilo malicioso e admiravelmente poético, e colado à vida cotidiana – um desses estilos que o tempo não consegue tisnar, antes reaviva mais o seu frescor, graça e colorido.
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(continua no próximo post...)
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quinta-feira, julho 16, 2009

A ÚLTIMA "ORELHA DE BURRO"
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Durante o Renascimento, havia o costume de abir a obra de Virgílio aleatoriamente e pôr um dedo num verso que preveria o futuro ou daria a resposta a uma pergunta candente. No Sul dos Estados Unidos, costumávamos fazer isso com a Bíblia. As pessoas sempre tiveram formas de tentar se agarrar a alguma revelação. A aruspicação dos etruscos, interpretação de presságios a partir dos fígados de animais sacrificados, não é mais estranha do que o fato de os gregos encontrarem significado nos padrões de vôo das aves e nos excrementos de animais. Abro Virgílio e finco meu dedo em "Os anos tudo levam, até mesmo as faculdade mentais". Nada animador. (Frances Mayes, em SOB O SOL DA TOSCANA)
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NA VERDADE, NA VERDADE...
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Essa não foi a última "orelha de burro". Explico: há dois capítulos do livro em que ela apresenta receitas da Toscana - um capítulo com receitas de inverno; outro, com de verão. Como vou emprestar este livro para uma pessoa que cozinha com o maior capricho e faz uns pratos maravilhosos, deixei três "orelhas de burro" (bruschette de inverno, flan de alho e sorbet de tangerina), se por acaso....
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terça-feira, julho 14, 2009

MAIS "ORELHAS DE BURRO", MAS CONTINUO EM "JÁ VOLTO":
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Ed se delicia ao ler o que o prefeito de Nápoles disse a respeito de dirigir por lá. Nápoles é a cidade mais caótica na face da terra para os motoristas. Ed adorou o trânsito: chegou a dirigir pela calçada enquanto os pedestres enchiam a rua. "O verde é verde, avanti, avanti", explicou o prefeito. "O vermelho, apenas uma sugestão." E o amarelo, alguém lhe perguntou. "O amarelo é para alegrar". (No filme, quem diz isso é um galã. Mas sério: esse trânsito eu não faço questão de vivenciar na Itália!)
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Até que ponto vamos nos tornar italianos? Não muito, receio. Somos claros demais. Incapazes de usar os gestos como acompanhamento natural da conversa. Uma vez vi um homem sair do aperto da cabine telefônica para poder movimentar as mãos enquanto falava. Muitas pessoas estacoinam no acostamento para falar nos celulares porque simplesmente não conseguem manter uma das mãos no volante e a outra no telefone enquanto conversam.
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Frances Mayes citou Rilke, um dos meus grandes conselheiros: Você deve mudar sua vida.
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No próximo post, as últimas "orelhas de burro".
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segunda-feira, julho 13, 2009

CONTINUO EM "JÁ VOLTO", MAS...
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Algumas conversas soltas.
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Minhas professoras do Ensino Fundamental que não me vejam, mas vivo fazendo - e adoro fazer - "orelhas de burro" nos meus livros. Na volta da Toscana foi assim: lia o livro da Frances Mayes e, como estava sem lápis, ia fazendo "orelhas de burro" nas páginas em que alguma passagem me chamava a atenção.
Para desfazer as orelhas, transcrevo tais passagens. Assim já sei onde encontrá-las:
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Nessas velhas cidades de pedra da Toscana não tenha nenhuma sensação de estar voltando no tempo como tive na Iugoslávia, no México ou no Peru. Os toscanos pertencem ao nosso tempo; eles simplesmente tiveram o bom instinto de fazer o passado acompanhá-los. Se nossa cultura manda queimar as pontes pelas quais passamos, e é isso o que ela manda, a deles manda atravessar para um lado e para o outro. Uma vítima da peste do século XIV, que talvez tivesse sido transportada por uma daquelas portas dos mortos, poderia ainda encontrar sua casa e talvez mesmo encontrá-la intacta. O presente e o passado simplesmente coexistem, quer gostemos disso quer não. (Fiquei com vontade de sentir essa sensação que ela sentiu na Toscana. Ares do passado com ares do presente, se imiscuindo.)
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Penso nos versos de Gary Snyder: fiquem juntos / aprendam as flores / tornem-se leves. (Esses versos já entraram na minha vida! Fiquem juntos. Aprendam as flores. Tornem-se leves. Pronto. Aprendi!)
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No próximo post desfaço mais "orelhas de burro". Aguardem! (Ou vão lendo o livro da Frances Mayes, que é uma viagem deliciosa!)
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sábado, julho 11, 2009

JÁ VOLTO
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Faz tempo que não vejo a terra vermelha, os ipês roxos e amarelos e o pôr-do-sol colorido. Vou revê-los agora. Já volto.
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terça-feira, julho 07, 2009

FUNERAL PRA INGLÊS VER
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Admiro duas coisas nos ingleses: o senso crítico e o humor - principalmente quando um está ligado ao outro.
Sobre velórios e funerais, percebi que eles adoram retratá-los em filmes, sem deixar essas duas qualidades de lado. Estou pensando em três filmes especificamente: QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL; MORTE NO FUNERAL e TÚMULO COM VISTA.
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Photobucket
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Desse último filme, me lembrei hoje à tarde. Ele tem um desenrolar engraçado: existe uma funerária na cidadezinha que faz todos os funerais dos habitantes de lá. Os velórios dessa funerária são como devem ser: austeros, discretos, sóbrios. Um dia, chegam dois homens norte-americanos e resolvem revolucionar o conceito de velório. Eles preparam verdadeiros shows pirotécnicos, com temáticas retratando algum sonho secreto do falecido. (Para vocês terem uma idéia: não lembro bem se foi uma senhora ou um senhor que faleceu e que gostava muito de Jornada nas Estrelas. Então a dupla, dona da nova funerária, deixa o defunto vestido como o Comandante Spock. Ali no túmulo mesmo. Durante o velório!).
A partir daí, a cidade começa a se dividir. Alguns, os mais tradicionais, preferem continuar com o trabalho da funerária antiga. Outros preferem a inovadora. Pois imagino que tenha sido essa funerária avant-garde que idealizou o funeral do Michael Jackson. É pra inglês ver!
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segunda-feira, julho 06, 2009

FRANCES MAYES ME SEGREDOU:
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Quanto mais o lugar penetra em você, mais sua identidade fica entrelaçada com ele. Nunca fortuita, a escolha do lugar é a escolha de algo que a pessoa deseja ansiosamente. (Em SOB O SOL DA TOSCANA. Bom, eu prefiro estar sob o sol da Toscana a estar sobre o chão gélido da Rússia).
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domingo, julho 05, 2009

QUASE DE VOLTA...À RÚSSIA!
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Amigos, como vocês sabem, estava na Rússia, morrendo de frio e morrendo de pena dos personagens do Dostoievski. Pois com promessa de calor, apareceu a norte-americana Frances Mayes, me convidando para passar uns dias na sua casa de veraneio na Toscana. Aceitei na hora!
E foi assim que me trasladei para a Itália, nesse início de verão (deles). Ainda estou Sob o sol da Toscana, mas meu retorno à Rússia se dará esta semana.
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COMO?
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Eu gosto de ler um livro literário por vez. Termino um, logo começo outro. Mas durante O IDIOTA, ganhei o livro SOB O SOL DA TOSCANA, da Frances Mayes. Fui ler o primeiro capítulo, só para ver como era, daí quis ler o segundo capítulo, então o terceiro, o quarto...e não consegui mais largar o livro. Nesse último mês de correria, estudo dobrado e cansaço idem, repousar por uns instantes na Toscana foi revigorante. Ainda mais que a descrição de Frances Mayes é simplesmente envolvente. Que delicadeza de escrita! Que sensibilidade para absorver impressões de uma nova cidade. Até a exaustiva reforma de sua casa é descrita de forma literária. Incrível!
Fiquei horas ouvindo como foi sua decisão de comprar a casa, de jogar a economia de anos num sonho que surgiu durante as férias de verão na Itália. Ousar uma mudança, começar tudo do zero - essa coragem eu também tenho, pensei com os meus botões enquanto ouvia Frances. É o tal espírito cigano que me acompanha desde pequena. E as reformas...tão cansativas, só de pensar. Mas é o pensar no trabalho concluído, na casa pronta que nos faz iniciar uma reforma desgastante.
Reforma. Gosto da palavra. A casa, a terra, talvez nós mesmos. Mas reformar para ser o quê? (...) É nossa disposição para todo esse trabalho que me espanta. (Frances Mayes, em SOB O SOL DA TOSCANA)
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E O FILME?
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Tenho o filme SOB O SOL DA TOSCANA aqui em casa. Acho-o delicioso. A personagem se chama Frances Mayes também. Mas, oh, não pense que o filme copiou o livro. O livro é a descrição - primeiro punho - feita pela autora. Ela vai contando vários episódios observados e sentidos na Itália. Alguns episódios, ela os viu acontecerem na rua, com outra pessoa. No filme, a maioria dos episódios acontece com a protagonista. É divertido ler o livro e ir lembrando como a cena descrita aparece no filme. A transposição do enredo de uma arte para a outra também é algo fascinante de ser observado. Ainda mais quando é feito com esmero. E tanto o livro quanto o filme foram feitos com esmero.
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O SONHO EM UMA CASA
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Tenho uma amiga que entrou em uma casa azul e, desde então, não pára de sonhar com ela. A casa é azul porque tem grade azul, pisos de azulejo azul, quadros em azul, flores azuis. Tudo azul, essa cor tão espiritual. Essa amiga disse que se um dia a tal casa for dela, vai mandar fazer a imagem de um santo - não vou dizer qual; o sonho é de outra pessoa - em azulejo azul e colocar na entrada.
Há casas mágicas, não tenho dúvida. Dessas em que entramos e sentimos um frisson. Algo a nos dizer: pode ser ela, ou é ela!, a casa que vai nos acolher, acolher nossa família, nossos sonhos, nosso cansaço, nosso descanso.
Frances Mayes, diante de uma casa quase em ruínas, deve ter sentido esse frisson.
A casa deve ter algum alinhamento positivo, de acordo com as teorias chinesas de Feng Shui. Algo está nos proporcionando uma extraordinária sensação de bem-estar. Ed tem a energia de três pessoas. Eu, sujeita a insônia a vida inteira, durmo todas as noites como quem acabou de morrer e tenho sonhos profundamente harmoniosos de estar nadando com a correnteza num rio verde-claro, sentindo-me à vontade para brincar na água. Na primeira noite, sonhei que o nome da casa não era Bramasole, mas Cento Angeli, Cem anjos, e que eu os descobriria um a um. Será que traz má sorte mudar o nome de uma casa, como mudar o nome de um barco? Como estrangeira temerosa, não mudaria. Mas, para mim, a casa agora tem um nome secreto além do seu nome verdadeiro. (Frances Mayes, no livro).
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UI, O FRIO!
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Já começo a me sentir pesada só de pensar que ainda volto para o frio gélido (não é redundância!) da Rússia. Preciso, urgentemente, para esta viagem, da companhia da grande amiga e conselheira, a digníssima Jane Austen.
Boa semana a todos!
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PENSANDO COM OS BOTÕES:
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Voltando da Rússia, certamente o nome da minha casa - no sentido metafórico, por favor: minha alma, meu ser - será BRAMARE. Brama Mare. Que é essa falta de maresia (*) na alma que começa a aumentar certos anseios.
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(*) fico fula (**) quando ouço maconheiro falar de "maresia" para se referir à fumaça da maconha. Que profanação!
(**) fula, pelo dicionário Aurélio é: Substantivo feminino. 1.Diligência, pressa. 2.Vão das bochechas, onde se acumula a comida mastigada. 3.V. quantidade (3). / Substantivo feminino. Chapel. 1.Apisoamento e preparação do feltro para a confecção de chapéus. 2.Aparelho para apisoar e calandrar panos; pisão, calandra / Substantivo de dois gêneros. 1.Etnôn. Indivíduo dos fulas, povo majoritariamente muçulmano que se estende, na savana sudanesa, desde o Senegal até ao norte dos Camarões (África); fulo; felata. Substantivo masculino. 2.Gloss. A língua desse povo. Adjetivo de dois gêneros. 3.Relativo ou pertencente aos fulas; fulo. [Var., nessas acepç.: fulá, fulani, fulâni.] 4.Bras. Angol. Diz-se, hoje, do mestiço de negro e mulato; pardo, fulo. Mas não é a nenhum desses sentidos que eu me refiro. É a um sentido mais catártico, usado em situações extremas: fula, de fula da vida.
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SÓ MAIS UMA COISA!
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Frances Mayes e eu compartilhamos a mesma admiração pela luz dourada. Isso foi um dos pontos decisivos na hora de ela colocar o sonho na casa Bramasole.
Eu vivo buscando essa luz dourada. E quando a encontro, coloco meus sonhos nela.
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quinta-feira, julho 02, 2009

DESDE A TOSCANA, MOSTRO ESTA NOTÍCIA QUE O KIKO ME ENVIOU:
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Fifa repreende comemoração religiosa do Brasil na África (01 de Julho de 2009)
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A comemoração do Brasil pelo título da Copa das Confederações, na África do Sul, e o comportamento dos jogadores após a vitória sobre os Estados Unidos causaram polêmica na Europa. A queixa é de que a seleção estaria usando o futebol como palco para a religião. A Fifa confirmou à Agência Estado que mandou um alerta à CBF pedindo moderação na atitude dos jogadores mais religiosos, mas indicou que por enquanto não puniria os atletas, já que a manifestação ocorreu após o apito final.
Ao final do jogo contra os EUA, os jogadores da seleção brasileira fizeram uma roda no centro do campo e rezaram. A Associação Dinamarquesa de Futebol é uma das que não estão satisfeitas com a Fifa e quer posição mais firme. Pede punições para evitar que isso volte a ocorrer.
Com centenas de jogadores africanos, vários países europeus temem que a falta de uma punição por parte da Fifa abra caminho para extremismos religiosos e que o comportamento dos brasileiros seja repetido por muçulmanos que estão em vários clubes da Europa. Tanto a Fifa quanto os europeus concordam que não querem que o futebol se transforme em um palco para disputas religiosas, um tema sensível em várias partes do mundo. Mas, por enquanto, a Fifa não ousa punir o Brasil.
"A religião não tem lugar no futebol", afirmou Jim Stjerne Hansen, diretor da Associação Dinamarquesa. Para ele, a oração promovida pelos brasileiros em campo foi "exagerada". "Misturar religião e esporte daquela maneira foi quase criar um evento religioso em si. Da mesma forma que não podemos deixar a política entrar no futebol, a religião também precisa ficar fora", disse o dirigente ao jornal Politiken, da Dinamarca. À Agência Estado, a entidade confirmou que espera que a Fifa tome "providências" e que busca apoio de outras associações.
As regras da Fifa de fato impedem mensagens políticas ou religiosas em campo. A entidade prevê punições em casos de descumprimento. Por enquanto, a Fifa não tomou nenhuma decisão e insiste que a manifestação religiosa apenas ocorreu após a partida. Essa não é a primeira vez que o tema causa polêmica. Ao fim da Copa do Mundo de 2002, a comemoração do pentacampeonato brasileiro foi repleta de mensagens religiosas.
A Fifa mostrou seu desagrado na época. Mas disse que não teria como impedir a equipe que acabara de se sagrar campeã do mundo de comemorar à sua maneira. A entidade diz que está "monitorando" a situação. E confirma que "alertou a CBF sobre os procedimentos relevantes sobre o assunto". A Fifa alega que, no caso da final da Copa das Confederações, o ato dos brasileiros de se reunir para rezar ocorreu só após o apito final. E as leis apenas falam da situação em jogo.
(notícia retirada daqui)
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Meus botões comentam:
- Ai, esses ateus do primeiro mundo... Cerceando a religião no futebol, ora bolas...?
Pois é...
Não sei como alguém pode se sentir incomodado com a atitude dos jogadores brasileiros. O Kaká e os amigos disseram "I belong to Jesus", e não: "Você também vai ter que pertencer a Jesus". Deixa eles, dinamarquês! Vem pegar um sol aqui no Brasil; está faltando Luz na sua cabecinha.
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quarta-feira, julho 01, 2009

CONTINUO NA TOSCANA, MAS AGORA COM JANE AUSTEN:
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Ninguém que tivesse conhecido Catherine Morland emsua infÂncia a imaginaria nascida para ser uma heroína. Sua situação no mundo, o caráter de seus pais, sua própria pessoa e aptidões, nada a predestinava a isso. Seu pai era pastor, sem ser descuidado ou pobre, e uma pessoa muito respeitada, embora se chamasse Richard e nunca tivesse sido bonito. Possuía uma apreciável fortuna pessoal, além de duas boas freguesias em sua paróquia, e não pretendia, por coisa alguma deste mundo, ter suas filhas guardadas a chave. A senhora Morland era uma mulher de grande juízo, de bom caráter e, o que é mais notável, de boa constituição física. Ela tivera três filhos antes do nascimento de Catherine; e, em lugar d emorrer pondo esta no mundo, como se devia esperar dela, viveu ainda, viveu para ter mais seis filhos, para vê-los crescer em redor de si, e para gozar ela mesma de uma próspera saúde.
(A ABADIA DE NORTHANGER, tradução de Lêdo Ivo)
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No CHÁ COM JANE AUSTEN, ficaremos com esse livro até final de agosto.
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