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sexta-feira, fevereiro 27, 2015

SÓ FALTA VOAR 

Uma amiga da minha mãe diz que ainda tem os filhos morando em casa. Detalhe: o caçula está com quase 30 anos. No aniversário de um deles, ela contou a parábola da águia: 
A mãe águia, quando percebe que os filhotes já estão com idade de sair do ninho, tira as penas de cada um. Assim, quando eles se encostam, perdem aquele conforto e aconchego da pena do outro e começam a se incomodar e a se bicar. Então, voam para outros lugares. Ou seja, é uma forma de eles ficarem independentes.
Essa amiga da minha mãe concluiu a parábola, dizendo que ela está precisando tirar a "penugem" dos filhos, pois acha que eles estão muito confortáveis em casa. (O que fez os três filhos sorrirem de forma enigmática.)
Pois conheço uma casa onde os filhos já estão sem as "penas" e começaram a se incomodar e a se bicar. O que antes causava brincadeira, hoje causa reclamação. O que antes unia, hoje desune. A música que antes embalava, hoje se tornou ruído. As flores de um começaram a causar alergia no outro. As piadas daquele perderam a graça. 
Os filhos dessa casa não percebem que se "bicam" porque já perderam a "penugem". Agora só precisam "voar". (E isso, às vezes, é o mais difícil.)

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

DOIS LIVROS 

Meu ano já começou com dois livros dignos de serem recomendados:

1) A MENINA SEM PALAVRA: Histórias de Mia Couto






















Sabem como é que esse livro foi parar nas minhas mãos? Há tempos, namorava os livros do Mia Couto na livraria, mas sempre acabava levando o livro de algum outro autor. Até que fui a uma livraria em São Paulo, me estiquei para pegar um livro (que eu não lembro de quem era) em uma prateleira alta, quando um outro livro caiu, literalmente, na minha cabeça. Um vendedor que estava próximo veio correndo me socorrer, pedir mil desculpas; disse que o livro estava mal colocado, perguntou se eu tinha me machucado etc. Por sorte, era um livro fino, não muito pesado. Quando olhei para a capa, era o A MENINA SEM PALAVRA, do Mia Couto. Pronto! Fui obrigada a levá-lo.
Foi o meu primeiro contato com a escrita desse moçambicano, então, de cara, não o achei muito fácil. Mas, lá pelo terceiro conto, parece que você vai entrando na linguagem poética dele, nas imagens sutis que ele constrói, e tudo flui mais. É um desses livros que você lê uma frase e volta a reler, devido à surpresa diante de uma combinação original de palavras e imagens. É um livro de leitura lenta, contemplativa, gostosa.
Tem algo de nostálgico, algo de esperançoso, algo de revoltante (mas uma revolta que, no sentir, é mais suave, já meio desvanecida pelo tempo).
Foi o meu primeiro contato com os livros de Mia Couto, mas, certamente, o primeiro contato de muitos que virão.

2) CARTIER-BRESSON - O olhar do século, de Pierre Assouline





















Ia tomar um "chá de aeroporto" em Porto Alegre. Tinha terminado de ler um livro e não tinha outro para me acompanhar. O que faria pelas próximas horas? Fui à livraria, já pensando em comprar algum livro da Agatha Christie. Acho que o suspense dela é a melhor companhia numa hora dessas. Mas, por um acaso, olhei para o título do livro de Pierre Assouline, e ele me chamou a atenção.
Levo ou não levo? Não costumo ser atraída por biografias, mas o livro continuou chamando a minha atenção...
Henri Cartier-Bresson é considerado O fotógrafo do século XX. A primeira foto que vi dele foi a RUE MUFFETARD, que eu publiquei no Desanuviando em 2004 (aqui)! Foi amor à primeira vista! Aquele garotinho com cara de danado, segurando orgulhoso duas garrafas, me conquistou. 
Depois disso, vi outras poucas fotografias de HCB (sigla para os íntimos!). Haveria algo de interessante na vida desse fotógrafo?
Dei uma folheada no livro e vi alguns trechos: Cartier-Bresson veio de uma família de comerciantes. Seu pai esperava que ele seguisse o mesmo caminho. Só que, desde cedo, o menino Henri demonstrou aversão a esse ofício. 
Ainda jovem, HCB, além de devorar livros literários, começou a se dedicar ao desenho e à pintura. Porém, as muitas regras que aprendia nessas artes, o decepcionavam e o faziam se sentir preso. Ele, então, passou a frequentar rodas boêmias de Paris. Andou com artistas surrealistas, conheceu Gertrude Stein (que lhe disse friamente que seus desenhos eram "fracos") e viajou para a África, para ter uma aventura e tentar "se encontrar". Cartier-Bresson dizia que sabia o que não queria na vida; só não sabia o que queria...
(Aqui, um parêntesis: Acho interessante pensar que ele não sabia o que queria da vida porque o seu futuro instrumento de trabalho ainda estava sendo difundido... No entanto, mesmo não sabendo o que queria, ele estava sempre "alimentando" seu espírito e aperfeiçoando seu olhar. Com isso, sem saber, ele estava se preparando para o que viria a ser na hora certa.)
Foi então que, um dia, Henri olhou para uma fotografia e se apaixonou pelo que viu! A imagem, pra mim, foi uma surpresa, pois sempre achei que ela tivesse sido fotografada por HCB! Mas, não! Foi justamente a foto que o fez ser tornar fotógrafo. Me refiro à Four Boys at Lake Tanganyka, de Martin Munkácsi (que você pode ver aqui). Eis o que Cartier-Bresson disse sobre essa fotografia e sobre o seu "encontro":

De repente entendi que a fotografia podia fixar a eternidade no instante. Essa foi a única foto que me influenciou. Nessa imagem há uma intensidade, uma espontaneidade, uma alegria de viver, uma maravilha tão grande que me deslumbra até hoje. A perfeição da forma, a percepção da vida, uma vibração sem igual...Pensei: bom Deus, podemos fazer isso com uma máquina...Senti como que um pontapé na bunda: vamos, vai!

Foi por essas "folheadas" que dei na livraria que eu acabei levando o livro de Assouline. Não me arrependi. A biografia de HCB é muito bem contada, e eu acabei fiquei impressionada pela vida desse que é considerado o fotógrafo do século XX. Título merecido.


sexta-feira, fevereiro 13, 2015

SERIADOS QUE COMECEI A ASSISTIR EM 2014 

Há dois seriados, em especial, que tenho acompanhado:

1) DOWNTON ABBEY 

Minha cunhada chama esse seriado de "O seriado das empregadas", o que deixaria a Condessa de Grantham, personagem de Maggie Smith, indignada - e com razão! Hehehe Porque, além dos empregados, o seriado trata da vida da família nobre que vive em Downton Abbey, tendo, como pano de fundo, as mudanças pela qual a Europa está passando.
Por que gosto desse seriado? Figurino impecável (as nobres têm roupas lindas!), mansões que, hoje em dia, são impossíveis de serem mantidas, certos policiamentos no comportamento, que, aos nossos olhos, às vezes parecem exagerados; às vezes, necessários. E, além disso, uma certa compostura em todos os personagens, sejam eles "do bem" ou "do mal" - nada a ver com as nossas telenovelas escrachadas.
Falei da Condessa de Grantham, e ela merece atenção especial: é a que mais nos diverte com suas tiradas sarcásticas e preconceituosas.

2) LIE TO ME

Tem no NETFLIX. O psiquiatra Cal Lightman (interpretado pelo ótimo ator Tim Roth) e a psicóloga Gillian Foster trabalham em uma agência, cuja função é detectar mentiras. Os dois são especialistas em observar linguagem corporal e micro expressões faciais. 
Nesse seriado, os capítulos são independentes; você pode ver um sem precisar se prender ao próximo. Mas é tão bom ver o Dr. Lightman desmascarando os indivíduos, que vc acaba assistindo a todos os capítulos e fica com vontade de aprender a desvendar as pessoas também, o que é possível. Sabe por quê? Porque esse seriado e o personagem do Dr. Cal Lightman são inspirados em um psicólogo chamado Paul Eckman, que tem um extenso trabalho sobre as emoções e as expressões faciais. Paul Eckman descobriu que há emoções que, em qualquer lugar do mundo, são expressas da mesma forma. (Inclusive em uma aldeia africana totalmente isolada do resto do mundo! Mesma emoção, mesma expressão facial.)
Pra quem se empolga com essas coisas, este é o seriado!


sexta-feira, fevereiro 06, 2015

RETROSPECTIVA (TARDIA) DOS FILMES DE 2014 


Aqui também vale o que já disse sobre a "retrospectiva tardia" (ver post do dia 26 de janeiro de 2014). Por conta disso, vou acabar falando de apenas um filme, que nem é de 2014 (é de 2013), mas foi no ano passado que eu o assisti:

A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY




















Esse filme com Ben Stiller conta a história de Walter Mitty: um homem tímido, anônimo, que leva uma vida extremamente pacata, indo de sua casa para o trabalho e do trabalho para a sua casa. Ele é uma dessas pessoas que podem passar pela vida sem ninguém se dar conta de sua existência.
Mas, em contraste com a sua vida sem graça, Mitty tem uma imaginação muito fértil, que o coloca em grandes aventuras e sempre em papéis de destaque.
Era assim que seria a sua vida - rica apenas interiormente - se não fosse um problema que surge no trabalho e o obriga a partir para uma viagem cheia de riscos, pressões, perigos. Então, Mitty se vê sem outra saída a não ser criar coragem e enfrentar o mundo real - e um mundo real bem emocionante!
Acho que o Ben Stiller é ótimo para esse tipo de papel. A transformação pela qual o seu personagem passa é incrível: de homem tímido e "anulado", torna-se mais seguro, mais confiante. No final, Walter Mitty passa por tanta coisa, que já não tem mais tempo pra se esconder em suas fantasias.
Adorei esse filme, pois acho impossível não gostar de um personagem que é tímido, com uma vida interior rica e que é obrigado a tomar coragem para se entregar ao mundo. Tanto em filme quanto na vida real, essas são as pessoas mais interessantes que existem! 
Além disso, também gostei do filme pelas lindas paisagens e pelos toques fantasiosos, meio exagerados de algumas cenas. Acho que isso sempre dá um ar lúdico gostoso para a história.

Só por curiosidade, o filme é baseado no conto mais famoso de James Thurber, publicado, originalmente, no The New Yorker, em 1939. Compartilho com vocês o conto, traduzido para o português: aqui.





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