<$BlogRSDURL$>

segunda-feira, julho 21, 2003

Texto da semana para OS VIRAMUNDOS (www.osviramundos.hpg.com.br)

(Continuação)
(Um pouco grande para poupar a quantidade de capítulos e aplacar a ansiedade.)

CAPÍTULO 3

Horácio – lembremos que ele nunca se olhou em um espelho, assim como todos os cidadãos daquela cidade não viam suas imagens desde o episódio da vidente -, agora com 11 anos, poderia brincar em qualquer outro lugar, como as demais crianças, mas quis o destino que justo ele aparecesse naquele terreno baldio.

Quando o nosso personagem viu aqueles pedaços de cerâmica amontoados, sentiu o que os franceses chamam de “frisson”. Ao princípio, sua mente de criança deslumbrou-se, como se diante de um brinquedo, mas seu espírito maduro percebera o inevitável daquele encontro. Estava ali toda aquela cerâmica intocada há anos e poderia continuar assim por mais tempo, porém Horácio a encontrou e sabemos que ele não é um garoto qualquer. Seu nascimento contara com a presença de uma profeta – charlatona ou não, isso veremos -; seu primeiro aniversário fora marcado por um incidente um tanto misterioso. Há pessoas que insistem em chamar de coincidências os fatos. Mas nesta história, nada ocorre por acaso. Nem mesmo o encontro de Horácio com os pedaços de cerâmica. Estava escrito (“Maktub”!)

Horácio começou a juntar os fragmentos. Havia muitos coloridos e ele, então, passou a aproximar o verde do azul do marrom do amarelo do vermelho. Passou horas agachado, brincando com as cores e, quando já estava tarde, teve que voltar para casa.

Ele foi, no entanto, sem desmanchar o que tanto mexia. E agora, leitores, vocês não podem ver, mas lhes digo o que o garoto fez: combinando as cores, reproduziu, em mosaico, a sua cidade. Cada detalhe estava ali: sua casa branca de janelas azuis, as demais casas, a padaria e a rachadura na parede, o bar e a infiltração,a igreja, a praça... porém, sem nenhuma pessoa.
Mas, já lhes adianto, no dia seguinte isso mudou.

********************************************************************************

No dia seguinte...

Horácio disse para a mãe que ia brincar, mas, obviamente, ele iria para o terreno baldio.

No caminho, passou pelo chaveiro da cidade, um senhor humilde, que vestia uma camisa branca encardida, usava sandálias de couro e tinha sempre um sorriso sereno.

Horácio cumprimentou-o e, ao chegar ao local das cerâmicas, desfez o trabalho anterior e brincou novamente com as cores, mostrando, dessa vez, o chaveiro, tal qual ele era: alegre e sereno.
Outra vez escureceu e o menino foi para casa.

No outro dia, voltou para o seu canto, mas, tendo passado pelo bêbado da cidade, conhecido por fazer os outros sorrirem, desfez o chaveiro, acrescentou umas quatro cores e mostrou o bêbado como nunca o viram: sozinho e chorando... (Isso porque Horácio conseguia captar a alma dos modelos!)

Para abreviar, digo que Horacio passou dias assim: ia para casa e, no dia seguinte, passando por uma pessoa, gravava suas feições, voltava para o terreno baldio, desfazia o mosaico anterior e produzia o novo.

Em um dia qualquer, Alguém, passando por ali, ficou admirado com aquele trabalho. Resolveu passar no local outra vez e se surpreendeu ainda mais ao descobrir a idade do artista.

Esse Alguém, então, revelou para toda a cidade o talento de Horacio. E – vocês devem lembrar – como há anos não havia espelho na cidade, todos queriam um retrato em mosaico, feito pelo menino – ainda que a sinceridade da imagem desagradasse o ego de alguns.

Horacio ficou conhecido como O ARTISTA DO MOSAICO e, durante anos trabalhou com isso em um atelier que lhe deram.

***************************************************************************************

Mas eis que, quando ninguém mais se lembrava dos mistérios ocorridos e tudo parecia estar de acordo com a normalidade, entrou na cidade um vendedor ambulante.

Ele foi andando em direção ao atelier do Horacio e, em sua sacola, não havia outra coisa senão espelhos...

(Semana que vem será o último capítulo!)
Comments:

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter