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quarta-feira, setembro 17, 2003

Não lembro se vi em um filme ou se li em um livro quando era criança, mas esta cena hoje me veio à cabeça: o pai, no leito de morte, chama um filho de cada vez ao quarto e diz (sim, para cada um!)“De todos, você é o meu filho predileto. Cuide bem dos demais”. Cada filho sente-se orgulhoso, mas nenhum comenta nada com o outro. Um dia, o pai já falecido, eles se reúnem e um revela o que o pai lhe havia dito. Obviamente, os outros também contam. E, novamente, não lembro qual foi a reação de cada um ao saber que o outro também era “o predileto”. Por favor, se alguém sabe do que estou falando e souber de onde é esta cena, me diga o nome da história e qual foi a reação dos filhos. Aguardo!

Bom, mas esse episódio, ou melhor, o que o pai fez é mais ou menos a artimanha do garotinho tímido no colégio. Ele quer se sociabilizar com o resto da turma, mas não sabe como fazer isso. Então, descobre um método infalível: carrega balas no bolso. Funciona assim: aproxima-se um aluno e ele diz “hum, tenho uma bala boa aqui. Você também quer?”. Sendo criança e gostando de bala, o outro aceita contente. Quando este está saindo o garoto tímido pede com ar sigiloso: “Olha, mas não conta para ninguém que eu te dei a bala, pois tenho poucas”. Pronto! O tímido já tem um amigo! E em pouco tempo ele terá um número de amigos diretamente proporcional ao número de balas que carregou no bolso.

Outro caso: é dia Internacional da Mulher e você recebe, pelo celular, uma verdadeira exaltação da mulher. Veio de um amigo e você, sendo do sexo feminino, sente-se a mais importante das pessoas. Logo depois, descobre que outras também receberam a mesma mensagem, da mesma pessoa...

Ainda não cheguei à conclusão se é condenável a atitude do pai, do aluno tímido, do amigo (também pode ser do professor, do vendedor, do artista...) , mas descobrir que não é exclusivo pode ser decepcionante.

Sim, sim, hoje estou possessiva, egoísta e egocêntrica. O palco é meu, só meu, e estou sozinha nele.(Eu e aqueles que também pensam ser donos do palco!).

(P.s.: quanto a namorado, uma atitude por parte dele como a do pai-no-leito-de-morte ou a do garoto-das-balas É CONDENÁVEL!)

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Agora, para quem não gosta nem de ouvir a palavra “política”, au revoir! (Pode voltar amanhã que haverá poesia!)

Você está andando por um campo árido, sem plantas, e, de repente, encontra um trevo de quatro folhas. Por ser raro, você fica contente. Pode até não ligar muito para essas coisas, mas valoriza o achado por saber que muitos gostariam de estar no seu lugar.

Pois agora se imagine em uma faculdade pública, recém saída de uma greve. Você está passando “distraidamente” por um corredor, passa por duas pessoas, e uma diz “Eu sou contra o governo de Cuba”. Ops, volta, volta. Você sabe que isso é raro e alguém que fala isso, numa faculdade federal, é mais raro ainda. Então você finge que está com sede – felizmente os dois resolveram discutir ao lado de um bebedouro – e fica ouvindo, bebendo água, ouvindo. Uma das pessoas – a que se posicionou a favor de Cuba – é a presidente de um grêmio estudantil. Você – por que estou usando “você”? Fui eu que ouvi! -; eu continuo bebendo água; agora começo a encher a garrafinha de água mineral e presto atenção na conversa. A garota do grêmio está recuando nos argumentos e já está apelando para um almoço na lanchonete (“amanhã a gente se encontra na lanchonete e eu te falo sobre a revolução russa, a revolução cubana etc etc”). O outro continua nas suas posições, nocauteando – na maior classe - a pobre estudante. Então aparece o professor deles e ambos se vêem obrigados a interromper a discussão. A minha garrafinha já está transbordando e percebo que também está na hora da minha aula. Mas o garoto-contra-Cuba fica com sede e vai beber água. Não tenho dúvidas: “você é uma peça rara aqui, sabia?”. E a resposta dele (coisa mais rara ainda!): eu sei, sou MONARQUISTA. Não gosto da esquerda, dos “ches” da vida, dos prós-fidel". Então lhe pergunto como havia se tornado um monarquista e, enquanto ele me conta sua história, eu o observo. Cabelo cortado, barba feita, fala com classe, sem recalque político e à vontade com sua ideologia. Quase o vejo em um colete xadrez abotoado, relógio de bolso (com corrente de ouro!) e cachimbo. Ele vai para a sua aula e eu para a minha. Fico contente com esse encontro casual. Esse estudante monarquista é, sem dúvida, uma figura rara.


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