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sábado, janeiro 31, 2004

E FOI ASSIM QUE NOS DISTANCIAMOS DE PORTUGAL...

“(...) a monótona cantiga dos portugueses enchia de uma alma desconsolada o vasto arraial da estalagem, contrastando com a barulhenta alacridade que vinha lá de cima, do sobrado do Miranda.

“Terra minha, que te adoro,
Quando é que eu te torno a ver?
Leva-me deste desterro;
Basta já de padecer.”

Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho do Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbrico gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram mais ais convulsos, chorados em frenesi de amor; música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.

E aquela música e fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas brasileiras, em torno das quais se nutrem, girando, moscardos sensuais e besouros venenosos, freneticamente, bêbedos do delicioso perfume que os mata de volúpia.

E à viva crepitação da música baiana calaram-se as melancólicas toadas dos de além-mar. Assim à refulgente luz dos trópicos amortece a fresca e doce claridade dos céus da Europa, como se o próprio sol americano, vermelho e esbraseado, viesse, na sua luxúria de sultão, beber a lágrima medrosa da decaída rainha dos mares velhos.”
(O CORTIÇO, Aluísio Azevedo)

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Reli O CORTIÇO, livro de que gostei muito mais na segunda leitura. E isso não me deixa compreender o porquê de o MEC – ou Ministério do Ensino como, segundo o meu amigo Ruy, seria o nome correto * - exigir aqueles livros que “conscientizam” os jovens, falando do garoto pobre, vítima de preconceito, ou da garota aidética, filha de mãe desconhecida, ou, ainda, do adolescente drogado que vai às ruas roubar. A LITERATURA BRASILEIRA – já que se quer passar autores nacionais para os alunos – é melhor: ensina mais e “conscientiza” mais também; não no sentido político, como o tal Ministério quer, mas no sentido humano, como deve ser feito.

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Costumo evitar assuntos desse tipo no Desanuviando, deixando essa “função” para outros bloguistas, mas agora já foi. Relevem!

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* sobre o Ministério, se quiserem saber porque o Ruy Maia Freitas defende a mudança do nome, perguntem para ele! Blog: www.despoinadamale.blogspot.com
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