Desanuviando

POR QUÊ?

O mágico, o que faz mágicas de verdade, de tanto ouvir dos outros que faz truques muito bons, passou a fingir que, de fato, faz isto: truques muito bons. Não mágicas. Por causa disso, também, ele ganhou o posto de “animador de festa infantil”. (E o que ele perdeu?). E passou a fazer truques mesmo, pois de nada adiantaria fazer mágicas, já que ninguém acreditaria.

Acontece que, às vezes, no meio de um truque sem graça, algo dentro dele, uma faisquinha – ou um anseio, ou um desejo inconsciente, ou, ou...como se chama aquilo? - cresce, e o ferve por dentro, deixa o seu rosto vermelho. Faz o lado controlado dele se descontrolar e o impede de fazer o que não quer fazer...e a faísca cresce ainda mais e percorre todo o seu corpo e quando chega às pontas dos dedos dele, sai em forma de mágica.

(Minha nossa! É mesmo uma mágica? Como deixei escapar aquilo? Será que alguém percebeu?)

Mas do fundo do salão de festas, o pai de uma criança observa os truques e percebe que aquele último tinha sido diferente. Então, quando todas as crianças se dispersam pelo salão, ele se dirige ao mágico e diz:

- E esta última mágica que você fez, hein? Só pode ser truque!

E o mágico, que por um momento cogitou a idéia (feliz) de ser descoberto, sente o caminho inverso: o sangue correndo de volta, o rosto empalidecendo, o calor voltando a ser mera faísca, até desaparecer. Ele então olha para o chão, meio encolhido, e responde:

- Sim, foi só um truque.

Por que o mágico faz isso? Por quê? Medo? Sabedoria?