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segunda-feira, agosto 15, 2005

VÁ AONDE SEU CORAÇÃO MANDAR
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(Adorei esta imagem que tirei do POLICROMOS. Combina com o post de hoje!)

Quando, em um post passado, falei sobre “livros de ônibus”, esqueci de mencionar que o ideal é que eles sejam leves - com duplo sentido, por favor! - para que, assim, não sejam mais um peso no seu dia-a-dia.

O meu “livro de ônibus” da vez é um livrinho singelo que queria ter lido há mais tempo. Mais exatamente, em 1999. Pelo que me lembre, nesse ano, morava no Rio e estava passando, num daqueles cinemas alternativos, o filme VÁ AONDE SEU CORAÇÃO MANDAR, que, soube mais tarde, era baseado no livro de uma escritora italiana. Não lembro se a minha prima o tinha lido, ou se uma amiga dela, só lembro que eu e essa minha prima queríamos muito assistir ao filme, mas, também não lembro o porquê, acabamos não indo. Um tempo depois, procurei pelo livro em uma livraria de shopping e não o encontrei.
Somente neste ano, não sei por que (estou uma interrogação ambulante...) me lembrei do livro e o procurei na internet. Finalmente o comprei e comecei a ler o livro cujo título sempre me chamara a atenção.

Da história, agora é que estou me enterando: há uma senhora que, depois de muitos anos sem ver a neta que criou, resolve escrever-lhe. O livro, então, são as cartas que essa senhora escreve para a neta, mas sem saber se a neta as lerá. E o conteúdo das cartas, até onde li, trata das lembranças dessa avó, que tenta compreender sua vida.

Na parte em que interrompi a leitura, a avó conta sobre uma vez em que sua filha (futura mãe da destinatária das cartas) foi morar longe e passou um bom tempo sem dar notícias. A filha andava arredia à mãe e envolvida com os movimentos ideológicos da época. A mãe resolve visitá-la e, em resumo, a cena que se segue é esta: a filha a vê e faz questão de ser indiferente, mas a mãe finge que não percebe. Elas tentam uma conversa e, lá pelas tantas (expressão que, agora me dou conta, não sei bem o que significa, mas sei que se encaixa nesse momento), a filha, contra sua própria vontade, dá a impressão de estar contendo choro por algo que a está magoando muito.A mãe, aproveitando essa fenda que aparece na couraça dela, a abraça, pois sabe que aquele é o momento em que poderá operar uma mudança no que está errado. Porém, o telefone toca, a filha vai atender e aquela fenda que se tinha aberto por um instante se fecha novamente. A mãe, tentando se convencer de que não deve se intrometer na vida da filha, volta para casa e, anos depois, enquanto escreve as cartas, diz que pode se lembrar de vários momentos, mas é sempre desse episódio que se lembra primeiro.

O que quero postar em seguida são as palavras que a avó escreve depois de contar essa lembrança da filha:

Por trás da máscara da liberdade, esconde-se amiúde o descuido, o desejo de não nos envolvermos. A fronteira é extremamente sutil, superá-la ou não é questão de momento, de uma decisão que tomamos na hora ou não tomamos nunca; e só percebemos sua importância depois de o momento já ter passado. E só então nos podemos arrepender, só então percebemos que naquela hora não devia haver liberdade, mas intrusão: estávamos lá, tínhamos consciência, dessa consciência devia ter nascido a obrigação de agir. O amor não combina com os preguiçosos; para existir em sua plenitude muitas vezes exige gestos decididos e fortes. Está entendendo? Eu disfarçara minha covardia e indolência dando-lhes o nobre nome de liberdade.

A idéia do destino costuma chegar-nos à mente apenas com a idade. Quando jovens, como você, geralmente não pensamos no assunto, percebemos tudo quanto acontece como fruto de nossa vontade. Sentimo-nos como pedreiros que vão construindo diante de si o próprio caminho. Só muito mais tarde é que nos damos conta de que a estrada já estava lá, e que alguém já a traçara para nós, de que a nós só nos cabe seguir adiante. É uma conclusão a que costumamos chegar lá pelos quarenta anos, e então começamos a entender que as coisas não dependem apenas de nós. É um momento perigoso, durante o qual a pessoa até se pode deixar tragar por um fatalismo claustrofóbico. Para se ver o destino em toda a sua realidade, é preciso deixar passar alguns anos mais. Lá pelos sessenta, quando o caminho que deixamos para trás é maior que o que ainda temos pela frente, notamos uma coisa que jamais havíamos notado antes: a estrada já então percorrida não era reta, mas repleta de bifurcações, a cada passo uma seta indicando uma direção diferente; dali se afastava uma trilha, mais adiante uma senda relvosa que se perdia entre os bosques. Entramos nalguns desses caminhos sem sequer percebermos; em certos casos, nem chegamos a reparar na existência do desvio; as entradas descartadas nem sabemos aonde nos poderiam ter levado; talvez nos tivessem levado a um lugar melhor, talvez a um pior; não sabemos, e ainda assim não podemos deixar de sentir certa lástima. Podíamos fazer uma coisa, mas não fizemos, voltamos para trás em vez de avançarmos. O jogo-da-glória, você se lembra? A vida procede mais ou menos da mesma forma.
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Ao longo do percurso, deparamos com as outras vidas: conhecê-las ou não, vivê-las profundamente ou deixá-las de lado, só depende da nossa escolha do momento; mesmo que não o saibamos, ao escolhermos um caminho em vez de outro podemos estar arriscando a nossa própria existência, bem como a de quem nos acompanha.
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Comments:
Que bom post e que bem "roubada" foi a foto!!!
Vim visitar o blog e dizer que na foto de hoje é mesmo mãe e filha!!(a mãe que sou eu!)
 

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