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quinta-feira, setembro 29, 2005

Pequena nota de demissão
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Aquele homem que vai sereno pela rua acaba de pedir demissão. Dentro do bolso esquerdo de sua camisa há um papel dobrado - discurso de demissão que ele escreveu, reescreveu, corrigiu, refez. Tudo para ser eloqüente no último dia e denunciar as angustiosas fraquezas do meio em que trabalhava. Não pouparia nada, nem ninguém. Apontaria cada erro, cada hipocrisia, cada desvio.Isso porque tinha a sensação de que o último dia no emprego era como todos os dias de um morto, quando se perdem os pudores da fala. E ele, mais do que ninguém, se sentia no direito de denunciar. Não queria parecer um mártir, mas só Deus sabe tudo o que ele agüentou calado e de todos os dias em que voltou mais esmorecido para casa, e ainda sorriu para não preocupar ninguém. Por isso reescreveu o discurso várias vezes e não poupou verdades e queixas.
(... )
No “gran finale” da vida profissional desse homem, ele entrou na sala de reuniões, tirou o papel do bolso, olhou para o rosto de cada um de seus colegas, mas ficou em silêncio por uns instantes. Pensou na sua família, na sua casa, no seu cachorro – um labrador que baba sem parar -...Então, olhou novamente para os colegas, dobrou o papel e com a voz submissa de sempre falou:
- Aprendi muito com vocês. .
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(O que se pode fazer? Com os erros também se aprende e talvez fosse crueldade jogar na cara deles todas as angustias do ambiente em que eles vão continuar vivendo - e ele, não mais.)
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Comments:
previsão para hoje, 05/10/05:
"Quarta-feira com tempo nublado, alguns períodos de melhoria e chuva a qualquer hora do dia."
 
Só para não deixar o espaço para "comments" em branco. Até mais.
 

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