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quinta-feira, julho 06, 2006

O QUE MUDA TUDO
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Soube de um jovem médico que tinha recém se especializado em oncologia. Seu primeiro paciente foi um velho, brigado com a família toda, cheio de dinheiro e mágoas. Para o médico iniciante, aquele não era um simples paciente, mas um grande desafio, pois, além de tudo, era um senhor bastante arredio.
Na primeira consulta, o velho disse que o médico podia fazer o que quisesse, pois dinheiro não seria problema para o tratamento. No entanto, o doutor percebeu que o paciente estava cada vez pior, chegando ao ponto de ter que ficar internado no hospital.
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Todos os dias era a mesma história: as enfermeiras entravam no quarto do paciente, para ajudá-lo, mas, uns minutos depois, saiam do quarto esbravejando, chorando, se prometendo aposentadoria antes do tempo. O velho era "in-su-por-tá-vel", diziam elas.
Com o médico, ele se comportava um pouco menos insuportável, mas começou a questionar a eficiência da medicina, dos remédios. Achava as enfermeiras muito fraquinhas; nunca tinha visto enfermeiras tão fracas em toda a sua vida (mesmo sendo a primeira vez na vida em que ficava num hospital...).
O insuportável conseguiu com que todos o dessem tratamento especial: antes de entrar no quarto, respirar fundo, não dar ouvidos a ele, não olhar muito para ele, arrumar a cama e o paciente, e sair do quarto.
Mas, percebendo-se ignorado, chamou o médico e disse que, daquele jeito, os remédios nunca iam funcionar, que aquilo não era tratamento digno de sua pessoa, que ninguém sabia o que ele tinha passado na vida e como dera duro pra chegar aonde estava, que aquelas enfermeiras pareciam a esposa e as filhas ingratas que tivera, o hospital parecia um bordel de última categoria e o médico...ah, o senhor, seu medicozinho de M., pensa que eu não sei que tá só pegando o meu dinheiro? Sabe que eu vou morrer, mas continua me sugando, sugando, até a minha carteira ficar tão esquelética quanto eu.
Não agüentando mais, puxa vida!, era o primeiro paciente dele, só dele, de verdade, e veja o que foi aparecer...Pois, não agüentando mais, não mesmo, o médico disse Chega!, e perguntou Você quer ser curado? e saiu do quarto.
Por uma semana, o paciente ficou em silêncio, sem pronunciar nem um ai ou ui, ou qualquer outro monossílabo. Entre si, as enfermeiras até comentaram o mesmo que o Romário tinha comentado sobre o Pelé: calado, é um poeta...
Mas, na semana seguinte, algo mudou. A enfermeira que entrou no quarto para arrumar o poeta, saiu de lá correndo, quase pulando, e disse: Ele me deu bom dia!
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