<$BlogRSDURL$>

sexta-feira, março 23, 2007

CARIDADE
.
Um certo email que li ontem me lembrou que há tempos queria comentar algo. É que ano passado soube que um respeitado médico da Minha Aldeia construiu uma casa de música para a população de um município bem pequeno de Santa Catarina. É possível que algum leitor do Desanuviando saiba disso, pois, segundo me informaram, o Diário Catarinense já notificou esse fato. Para quem não sabe, vou explicar tudo o que há e houve por trás de uma simples casa-escola de música.
.
O tal médico, certa vez, foi a um congresso de medicina na Europa e se encontrou com um amigo, também médico, mas alemão. Em uma conversa fora dos campos da medicina, esse amigo disse que aprendera a tocar piano quando criança e seguia tocando esse instrumento até hoje. O médico da Minha Aldeia ficou com isso na cabeça e pensou que a excelente formação que ele via no amigo se devia, em grande parte, a esse conhecimento musical.
.
Um tempo depois, o médico brasileiro comprou e reformou uma casa antiga no município próximo a Minha Aldeia. Esse lugar foi colonizado por alemães, e os traços físicos de seu povo denunciam isso. O médico e sua família, na hora de reformar e cuidar da casa, tiveram toda a ajuda necessária do povo local. Pensando em uma maneira de retribuir, ele se lembrou do amigo alemão e resolveu abrir um espaço em que as crianças de lá pudessem aprender música sem pagar nada.
.
Algumas considerações feitas pelo médico:
- O Brasil não é só Axé. Nós tivemos influências de várias raças e, por isso, também podemos ter contato com várias expressões artísticas. Eu pensei na música erudita porque me lembrei daquele amigo e sua formação. Eu não tenho a pretensão de que saia algum grande músico de lá; só queria retribuir de alguma forma pela ajuda que recebo dos moradores, pela água que uso, pelo ambiente que usufruo.
.
Algumas considerações minhas:
Sempre que vejo um empresário, ou político, ou alguém de posses fazendo algo – por conta própria; não para aparecer! - por uma comunidade ou grupo específico, penso: “que bom! Tem que fazer mesmo!”. Acredito naquilo que “quem mais tem, mais tem que dar”. Ou seja, quem mais tem condições para oferecer ajuda, mais DEVE oferecer. Mas não somente dar por dar; é dar para retribuir. Eu achei bonito o médico dizer que queria RETRIBUIR pela ajuda que recebe, pela ÁGUA QUE USA, PELO AMBIENTE QUE USUFRUI. Nesse sentido, nem é preciso ser muito rico financeiramente para se ter esse espírito de gratidão e retribuição. Basta habitar uma cidade e morar em um bairro para ter motivos para retribuir. Encontrar sombra gostosa na calçada e água potável em casa são coisas que devemos agradecer. Como retribuir? Cuidando disso já é um bom começo – e por aí vai.
.
Quanto ao outro comentário do médico, que ele não tem pretensão de que saia de lá um grande músico. Ok. Mas sem preparar um terreno, sem plantar, sem regar é que não se colherá nada. Nunca se sabe quando o destino fará nascer um gênio justo naquele lugarzinho. E se já não o há? E se só faltasse terreno para alguém descobrir sua vocação? Como disse, nunca se sabe, mas a gente deve deixar o campo fértil e adubado. Depois, é questão de tempo.
.
E o fato de aquelas crianças terem contato com a música erudita abre novos campos. Elas, que provavelmente nem viram o mar – tão próximo; só algumas horinhas...-, terão um pouco do mundo ali dentro. Sons universais, histórias de homens estrangeiros que descobriram seus talentos, a literatura que tem ligação com a música. A pessoa pode continuar sendo um lavrador, pode continuar morando no mesmo lugar minúsculo, mas, como no poema do Fernando Pessoa, fica maior porque passa a ser do tamanho do que vê.
.
Esse exemplo do médico da Minha Aldeia mostra que caridade pode – e deve! – ser feita. E mais: ela é uma iniciativa pessoal. Sendo pessoal, qualquer um pode encontrar o seu jeito de ajudar ou, o que acho mais correto: de retribuir, pois, no fundo, é uma retribuição até por termos condições de ajudar. E quando falo em “condições” não me refiro somente às materiais, financeiras. Há um trecho do (perfeito) livro 1984, de George Orwell, que é usado em um contexto bem específico – o amor de um homem por uma mulher -, mas, ampliando o sentido, exemplifica bem o que quero dizer:
“(...) e quando não se tem nada mais para lhe dar, ainda se lhe dá amor”.
.
.
.
.
Rebeca Miscow
Comments:
REBECA!!!

Aprendi como c posta!

XD
 
É, o importante é o desejo de ajudar.
E o seu comentario no escrito à lápis hein? sempre me 'pegando' pelas palavras. É o q eu digo, tudo q falo é usado contra mim... hehe
 
hahaah é que eu achei engraçado vc dizer que vai "estudar" a possibilidade. Ainda bem que pra descobrir a melhor possibilidade não é preciso fazer mestrado, né?
 
Concordo inteiramente com você^^
 

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter