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sábado, novembro 17, 2007

SUGESTÃO de dois filmes, aliás, três:
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O primeiro: GUANTANAMERA, de Tomás Gutierrez Alea
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No site 2001vídeo há a seguinte descrição: Guantanamera é uma comédia que se passa em Cuba (...). O transporte de defuntos se torna um problema, e Afonso, na tentativa de recuperar seu prestígio, formula um intrincado plano para resolver a situação. Com uma morte inesperada em sua família, Afonso inaugura o novo sistema de transporte funerário, levando o corpo de Guantanamo até Havana em uma peregrinação com situações tanto cômicas como absurdas, de forma que a vida de ninguém nunca será a mesma.
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É um filme engraçado, com enredo simples, bem escrito, bem filmado, bem "encaixado" e que a todo instante me fez pensar no Brasil quanto ao humor e a vários personagens: o caminhoneiro, alguns burocratas, as mulheres "barraqueiras", os que dão um "jeitinho" pra tudo. Mas mais especificamente que no Brasil inteiro, o filme me fez pensar no Nordeste (no seu interior): aquele bando de gente lotando um transporte caindo aos pedaços, as paisagens áridas, cidades descuidadas, pessoas pobres, esquecidas, tentando sobreviver. Isso nem é o mais importante no filme; o enredo é que chama a atenção mesmo, mas é que várias vezes eu achei que estivesse vendo um filme brasileiro. Só me dava conta de que era um filme cubano quando tocava a boa e velha salsa - a melhor do mundo.
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O segundo: DIÁRIO DE UM PADRE, de Robert Bresson
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Esquecidos não são apenas os nordestinos e os cubanos pobres. Falando desse filme, estarei falando de uns esquecidos (ou pouco "ouvidos falar por aí"): Robert Bresson, Georges Bernanos e Gustavo Corção.
Um amigo me emprestou o dvd Diário de um Padre, depois de ter me emprestado o filme do mesmo diretor: O processo de Joana d'Arc (que, aliás, será minha terceira sugestão!). Robert Bresson, francês, diretor de filmes; pelo que diz o "extra" do dvd, foi peculiar em sua forma de filmar, de apresentar as falas dos personagens e, em um instante de sua carreira, de escolher atores não conhecidos. Gostava de Dostoievski, de dramas da mente e da alma, de pessoas "pequenas" aos olhos de uma sociedade vaidosa. Jean Luc Godard, outro diretor francês, fez o seguinte comentário sobre Bresson: "Robert Bresson is French cinema, as Dostoevsky is the Russian novel and Mozart is the German music".
O filme Diário de um Padre é baseado no livro Diário de um Pároco de Aldeia, de outro francês: o escritor Georges Bernanos. Li esse livro no começo do ano. Para você ter uma noção do que sentirá ao ler Bernanos, experimente ler um livro do Saramago e, logo depois, o Diário de um Pároco... - ou qualquer outro do Bernanos. Você ficará impressionado com duas maneiras tão distintas de enxergar a vida. Saramago é um ateu confesso; Bernanos foi católico (e agora não lembro se ele sempre foi católico ou se se convertou depois de velho).
Na história em questão, um padre novinho vai para uma aldeia, para cuidar de sua primeira paróquia. As pessoas da aldeia são hostis, frias. O padre é a ingenuidade em pessoa, não tem talentos que se sobressaiam, e ainda tem um problema sério de estômago, que mais tarde descobrimos se tratar de um câncer - "doença de velho tomando conta dele, tão novo". Ninguém o recebe bem, há um médico que se suicida, um conde (praticamente o "dono" da aldeia), que é amante da governanta, a esposa do conde, uma mulher que se tornou fria por ter perdido um filho, a filha dos condes que quer fugir dali e que fica testando o padre. (Drama, drama, minha gente!! Só veja quando estiver com o estado de espírito preparado. Mas garanto que é melhor que novela da Rede Bobo.). A conclusão a que se chega é que o padre tem a doença, mas a cidade é que está doente. (Claro, no sentido espiritual, daí os "dramas da alma" que Bresson gosta de retratar).
E onde entra o Gustavo Corção? Georges Bernanos morou um tempo no Brasil. Em Minas Gerais há, inclusive, o MUSEU GEORGES BERNANOS. Durante sua estadia em nosso país, Bernanos ficou amigo de Gustavo Corção, com quem compartilhava idéias políticas e religiosas. Do Gustavo Corção, encontram-se nas livrarias, com alguma dificuldade, dois de seus muito bons livros: A descoberta do Outro e Lições de Abismo. Em sua época, diziam que sua escrita estava em pé de igualdade com a de Machado de Assis. Tendo ou não semelhanças, só por esse motivo já deveria ser lido. Os demais livros de Corção podem ser encontrados em sebos, se você estiver "no lugar certo, na hora certa".
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E o terceiro, como já disse: O PROCESSO DE JOANA D'ARC, também de Robert Bresson.
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O filme é isto mesmo: só o processo. Não conta a biografia dela. Para quem não sabe nada dela, terá algumas pistas sobre o que ela fez antes de ser condenada - e por que isso ocorreu, em qual contexto histórico etc. Joana D'Arc tinha apenas 19 anos quando foi condenada, e Bresson se baseou em documentos e depoimentos históricos para fazer o filme. Ela foi santa e, como tal, pode causar estranheza aos olhos da gente. Não sei qual será a reação de um espectador que não acredita em santos ao ver o filme. Vai considerá-la louca? É o que muitos acharam em sua época, incluindo seus "juízes". É interessante, no filme, ver como, em uma mesma "instituição", existem pessoas horrendas, falando e julgando "em nome de Deus", enquanto outras, bondade ao extremo, chegam a se anular e a dar sua vida ao próximo "em nome de Deus". Qual a explicação para isso?
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Vou contar pra vocês: escrevi esse post com um CD de fundo que só combina com o primeiro filme, Guantanamera: CELIA CRUZ - A NIGHT OF SALSA. A vida tem os seus dramas, mas, como diria a reina de la salsa, a vida também é hermosura, hay que vivirla.
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