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quinta-feira, abril 10, 2008

CTRL+C, CTRL+V: A ARTE DOS ADOLESCENTES
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Agora recordo: uns anos atrás, nos bancos de faculdade, a turma esperava as indicações bibliográficas para o semestre. "Introdução à História da Arte", eis o título da disciplina. E o professor, com total seriedade, informando os alunos que só havia um livro verdadeiramente obrigatório: a Bíblia. A turma ouviu o conselho e abriu a boca de espanto. A Bíblia?
Sim, a Bíblia. Sem um conhecimento do Antigo e do Novo Testamentos; mas também sem alguma intimidade com outros textos religiosos --a Vida dos Santos e mesmo os Textos Apócrifos-- era inútil tentar entender a história da arte no Ocidente.
Escuso de dizer que o homem estava certo. Olhando para os últimos 17 ou 18 séculos --desde as primeiras expressões de arte paleocristã-- é a figura de Cristo e a sua herança que se encontram presentes em cada quadro, escultura ou igreja ocidental. E, se esquecermos a Idade Média e a sua longa meditação artística sobre o sagrado, mesmo o Renascimento, ao procurar "resgatar" a herança greco-latina (o que implicava resgatar a figura humana que os medievais colocavam numa posição de inferioridade hierárquica face ao divino), foi sobretudo para melhor servir a história sacra.
(...)
Aliás, não é preciso acreditar no divino para acreditar no papel da religião na construção dessa identidade. Que o diga Camille Paglia, que em texto recente se apresenta como ateia e libertária de esquerda --e, apesar disso, defensora da necessidade de estudos religiosos nos currículos universitários das Humanidades. Uma sociedade totalmente secularizada, que despreza a religião e eleva o materialismo a um novo e único deus, só pode gerar uma arte entediante e adolescente. E, do ponto de vista histórico, falsamente rebelde: a arte "oposicional" começou com os românticos e morreu, algures, na década de 60, com o estertor pop. Bater na mesma tecla é bater em tecla gasta, repetitiva e artisticamente estéril.
(...)
sem um entendimento da "tradição": sem esse sentido histórico que, para usar as palavras de T. S. Eliot, leva alguém a escrever (ou a pintar, ou a esculpir) como se a literatura ocidental estivesse presente no momento presente. Porque só esse entendimento permite uma verdadeira continuidade, ou uma reformulação, ou até uma ruptura com o passado.
A criação no vazio, típica de adolescentes, apenas produz grande parte da arte adolescente que ocupa os nossos museus, ou as nossas estantes privadas.
(João Pereira Coutinho, em A ARTE DOS ADOLESCENTES)
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Copiei e colei praticamente o texto todo para o blog. Mas se quiser ler o que falta, entre aqui.
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