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segunda-feira, junho 09, 2008

O “POTE DE OURO” PERDIDO... (final)
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Eu achei que ele estivesse brincando. Sabe como é, né? Esmola grande, santo desconfia. Nós não tínhamos feito nada, não faríamos nada, não teríamos condições de fazer nada - nem poderíamos. E se ele pensou em pegar duas escrivãs para esposa e nos levar para os Emirados estava enganadíssimo! Sou contra a bigamia, trigamia, poligamia, o que seja. E amo o Ocidente! Que isso fique bem claro! Por isso, nem tocamos na pedra. Mas daí foi o xeique quem falou em seu português arrastado:
- Fiquem com vocês. Já tenho muitas dessas pedras. Vocês podem fazer uma jóia com ela.
E os dois se retiraram.
Só quando a porta se fechou é que minha amiga e eu tocamos nas pedras e, então, foi de nossos olhos que saiu um brilho resplandecente. As pedras eram roxas, bem lapidadas. Como existem algumas pedras nessa cor, não sei dizer que tipo era. Apenas imaginei o que faria com ela: um colar, um brinco, um anel, uma pulseira. Como última hipótese, a venderia.
Encerrou o nosso trabalho. Minha amiga e eu guardamos bem as nossas pedras em um lencinho e nos despedimos. Ela foi para casa; eu, para a faculdade. Na aula, não consegui prestar atenção em mais nada. Olhava para o quadro e só via a pedra, girando em câmera lenta para mim. A sala escura e em silêncio, e a pedra brilhando. E girando lentamente. Imaginei um pingente com ouro para ela. Não sabia que gostava tanto de pedras preciosas. Até então, me contentava com as pedras fakes. Eram bonitinhas. Mas essa realmente tinha um outro brilho. Inclusive fiquei com receio de contar a história para as pessoas. Vai que atraía olho gordo. Nunca se sabe.
Já de noite, na volta para casa, desci do ônibus, olhei para o mar e vi água roxa resplandecente. E as pedras do mar também eram roxas, e brilhavam mais que as estrelas. Como eu adoro jóias!
Andei mais um pouco e vi algo se mexendo no chão. Era um peixe que, não sei como, havia saltado do mar para a calçada. Passei a ver pedras preciosas em tudo: o peixe era cor de esmeralda. Fiquei com uma dó danada de ver ele se retorcendo todo, agonizando. Tentei pegá-lo com a mão, mas ele escorregou. Então me lembrei de um lencinho que tinha na bolsa. Tirei o lenço, enrolei no peixe e o joguei de volta para o mar. No momento em que o joguei, me dei conta de que a pedra também estava no lenço, e que poderia estar indo junto com o peixe. Gelei!... Mas para minha felicidade, a pedra tinha caído dentro da bolsa. Ufa! Alívio. Peguei a pedra, a ergui contra a luz da lua e, nesse exato momento, uma ave cor de ônix esbarrou na minha mão, fazendo com que a pedra fosse cair no mar. Só que antes de cair na água, o peixe esmeralda saltou e a engoliu. Quando ia maldizer o peixe e a minha sorte, a mesma ave prendeu o peixe com o bico e saiu voando. A ônix levando o esmeralda, com a minha pedra preciosa dentro. Quase sentei no meio da calçada e comecei a chorar, mas fiquei tão aturdida que não tive nenhuma reação, a não ser ficar olhando aqueles bichos que diminuíam de tamanho no horizonte.
Nesse instante, o mar voltou a ficar escuro; as pedras, marrons. Só havia a luz das estrelas, que nem brilhavam tanto assim. Cheguei em casa derrotada, pois, pior do que nunca ter uma pedra preciosa é tê-la e a perder.
...
E foi assim que tive o meu "pote de ouro", e o perdi de forma inusitada.
Mas me digam: se eu contar essa história por aí, alguém vai acreditar?
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