Desanuviando

Todos os dias, quando vou ao trabalho, como já me acostumei a pegar o ônibus no mesmo horário, acabo indo com as mesmas pessoas. Dentre elas, há uma mãe com uma filhinha que sempre me chamam a atenção. Primeiro porque a mãe tem o rosto da Fanny Ardant. É muito bonita e, mais ainda, tem jeito de mãe - nada daquelas mães que tentam se afastar da imagem de mãe! Ela tem uma postura que, não sei bem dizer, mas me parece nobre, apesar de estar sempre correndo com a filha para alcançar o ônibus, e de estar carregando sua bolsa, a lancheira e a mochila da filha. Segundo porque a filha é branca, branca, branca, e descobri que é xará da minha mãe - até a escrita do nome é igual, como vi pelo adesivo na lancheira.

Quando as duas entram no ônibus, a mãe termina de pentear a filha e, por a menina ser muito alva, passa filtro solar em seu rosto.

Durante o trajeto, a mãe acaba se sentando no lugar onde pega mais sol e vai tricotando - literalmente! Coisa que raramente vejo por aí... A filha vai soltando os nós da linha e contando orgulhosa para a mãe quantos nós já desfez.

Quando estão para chegar no ponto - elas descem antes de mim -, a mãe alerta:

- Não corre!

Mas não adianta: assim que a menina desce, sai correndo na frente, se matando de rir por ver a mãe atrás, chamando-a de volta.

Só que hoje a cena se alterou um pouco. A mãe continuou carregando bolsa, mochila e lancheira, passou filtro solar no rosto da filha, já dentro do ônibus, mas, no momento em que o ônibus se aproximava do ponto, a mãe não falou nada sobre não correr, e, por um mistério, quando a garotinha desceu, ficou parada, esperando a mãe descer toda carregada.

Então, surpresa! Assim que a mãe desceu, foi ela quem saiu correndo na frente da filha, se matando de rir. E a filha, correndo atrás, só gritava:

- Sua danada! Volta aqui!

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Quero ver amanhã qual das duas vai sair correndo primeiro.

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