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domingo, março 22, 2009

CONCENTRAÇÃO E MULHERES
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Estava conversando com um amigo sobre concentração nos estudos. Ele me disse que às vezes tem muita dificuldade para se concentrar, é meio dispersivo, e tem que brigar muito para que a atenção não saia "voando" por aí. Eu disse que tenho uma boa concentração, mas confessei: tenho um truque para isso, que eu aprendi com o tempo.
Minha "técnica" de concentração é assim. Percebi, há anos, que tinha muita dificuldade para me concentrar quando o texto a ser lido ou estudado me era obrigado pela escola ou pela faculdade, ou seja, um texto contra a minha vontade. Em compensação, se pego um livro da minha escolha e minha vontade, pode estar o maior barulho ao redor (o que não recomendo, mas enfim), que eu consigo me desligar do que está ocorrendo fora e me deixar captar pelo livro. Dessas duas conclusões, o que foi que fiz? Sempre que tinha que ler um texto "chatinho, mas obrigatório", antes dele começava lendo um livro da minha escolha. Por exemplo: começo lendo Persuasão, da Jane Austen, que é um livro que me prende (está me prendendo) facilmente a atenção; leio algumas páginas e, então, quando já estou bem atenta, começo a ler o texto obrigatório.
É claro que às vezes dá vontade de não largar mais o texto da nossa escolha. Mas daí requer-se um pouco de "noção do dever", "abdicação" etc. Comigo costuma dar certo. Acho que a concentração nos estudos é algo que se aprende com o tempo.
Mas por que falo disso? Porque, além dos livros da Jane Austen, comecei um livro que tem me prendido muito a atenção. Já comentei sobre ele aqui no Desanuviando (ver post do dia 30 de novembro de 2005), mas naquela época só tinha lido páginas esparsas dele. Agora é que resolvi ler este livro do começo ao fim. Seu nome é Mulheres que correm com os Lobos. Não sei qual seria a reação dos homens ao lerem esse livro, mas acho que as mulheres que buscam o auto-conhecimentono e o aprimoramento mental e espiritual devem achá-lo bem interessante.
A autora, Clarissa Pinkola Estés, é analista junguiana, com anos de prática, além de ser uma cantadora, ou seja, uma contadora de histórias. O livro em questão apresenta interessantíssimas análises (com referências ao self, à psique, aos arquétipos etc) sobre fábulas universalmente conhecidas. E todas elas voltadas à mulher, para que ela resgate sua "mulher selvagem". E o que ou quem seria essa "mulher selvagem"? A resposta está logo na introdução do livro:
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E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base.
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E Clarissa ainda vai dando mais dicas para a gente perceber quando há a presença da Mulher Selvagem e quando ela falta:
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É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. (..)
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De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos.
(...)
Aproximar-se da natureza instintiva não significa desestruturar-se, mudar tudo da esquerda para a direita, do rpeto para o branco, passar o oeste para o leste, agir como louca ou descontrolada. Não significa perder as socializações báscias ou tornar-se menos humana. (...) Ela implica delimitar territórios, encontrar nossa matilha, ocupar nosso corpo com segurança e orgulho independentemente dos dons e das limitações desse corpo, falar e agir em defesa própria, estar consciente, alerta, recorrer aos poderes da intuição e do pressentimento inatos às mulheres, adequar-se aos próprios ciclos, descobrir aquilo a que pertencemos, despertar com dignidade e manter o máximo de consciência possível.
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Quando falta a Mulher Selvagem dentro de si:
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É quando a mulher começa a sentir-se impotente, insegura, hesitante, bloqueada, incapaz de realizações, entregando a própria criatividade para os outros, escolhendo parceiros, empregos ou amizades que lhe esgotam a energia (...); a isolar-se da sua própria revitalização, deixar-se envolver exageradamente na domesticidade, no intelectualismo, no trabalho ou na inércia, porque é esse o lugar mais seguro para quem perdeu os próprios instintos.
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Deixo o resto para quem for ler o livro, mas, para completar, informo que a escrita dessa autora é muito cativante. Parece mesmo que estamos ouvindo uma cantadora. E eu só descobri esse livro porque tinha lido antes um outro livrinho dela: O jardineiro que tinha fé. Lembro que o li em uma noite e fiquei tão encantada com a delicadeza da narração e a sabedoria da mensagem, que entrei no google para saber mais a respeito da autora.
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Em tempos em que vemos mulheres como a boba da Suzana Vieira ou como todas as bobas do Big Brother e afins cativando a atenção da imprensa, é bom reafirmarmos nossos valores (como disse a grande Cora Coralina: E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando.) e ouvir mulheres realmente sábias, que têm aflorada a "bela forma psíquica natural da mulher".
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