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quarta-feira, outubro 21, 2009

EPIFANIA

Estava estudando como uma condenada. Últimos minutos antes de pegar o ônibus correndo. Dia em que acordei um pouco mais cedo que o habitual. Dia em que tomei café pra ficar desperta.

De repente, do apartamento da vizinha veio um som alto de música. Ela tem esse hábito de colocar música alta. Às vezes é música erudita; às vezes é música pop; outras, é sertaneja. Hoje, fiquei surpresa: era música natalina. Em pleno outubro! Está certo que ontem também me assustei por ter visto a primeira iluminária de Natal em um poste da cidade. Em pleno outubro! ... Parei para ouvir qual era a música: Silent Night.

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Em 1999, um senhor que ficara meu amigo no ônibus era o editor de um jornalzinho do bairro. Ele me pediu pra escrever um texto sobre o Natal, para a edição de dezembro. Fiquei as duas primeiras semanas do mês quebrando a cabeça com o tal texto. Tudo o que escrevia parecia piegas demais. Tudo era óbvio demais. Porque Natal tem muita coisa pra falar, muita coisa pra lembrar, mas parece que tudo já foi dito. Tive que pedir clemência: não consegui escrever um texto pro Natal. E até hoje, quando chega 24 de dezembro, eu penso em como seria o texto que não consegui escrever. Na maioria das vezes, penso que seria algo extremamente pessoal, contando sobre como é bom estar com a família. Teve um Natal em que a família da minha faxineira passou com a gente. Eles estavam todos arrumados, nos trouxeram presentes, nos sentamos para comer ao redor da mesma mesa. E deixei meu CD (surrado) de música celta tocando... Houve também um Natal em que o dia inteiro choveu bastante, e um problema muito ruim surgira para pessoas próximas a mim. Resolvi caminhar na chuva mesmo, pra tentar espairecer. Fui me molhando. No meio do caminho, o sol resolveu se mostrar antes de sumir de vez, e me lembro de ter voltado com o arco-íris. Quando cheguei em casa, o tal problema tinha sido resolvido, e a noite de Natal teve o espírito de paz que deve ter. Também penso no que a minha avó conta sobre sua mãe – minha bisavó – que, nas noites de Natal, ela nunca falava de coisas ruins, nem deixava as pessoas falarem de coisas ruins, nem falarem mal dos outros. Noite de Natal é pra ser uma noite alegre, ela dizia, e é assim que devemos estar - alegres. Minha avó também diz que vê isso da minha bisavó em uma tia, que faz questão de, no Natal, se renovar, perdoar, se livrar de mágoas, não falar de tragédias, nem de revoltas. Como um ritual. E quando a minha avó me fala isso, penso que a verdadeira renovação não começa na virada do ano; deve começar no Natal. O Ano Novo é só uma confirmação desse espírito que renovamos.

Teria escrito isso no tal texto que não escrevi, mas essas reflexões só vieram depois, justamente por não ter conseguido escrever o texto. E, ainda assim, tenho minhas dúvidas se não seriam consideradas piegas...

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Hoje, ouvindo a música Silent Night que vinha do apartamento ao lado, pensei mais uma vez no texto que não consegui escrever. Mas, pela primeira vez, pensei nisso, não no dia 24 de dezembro, mas em pleno outubro! E então (vou confessar a vcs), fiquei comovida. Porque fiquei pensando – lembrando, na verdade – que Natal é pra comemorar o nascimento de Cristo. É por Ele que comemoramos essa data. É por Ele que já começaram a pendurar iluminárias pela cidade e por Ele que escreveram essa música. Noite feliz, noite feliz / Ó Jesus, Deus da luz / Quão afável é teu coração / Que quiseste nascer nosso irmão / E a nós todos salvar, diz em português. É por isso que devemos ficar alegres e abandonar – de verdade – as mágoas, as raivas, as revoltas, renovando o espírito, pois a estrela anunciou a Boa Nova. Mas nos esquecemos disso. Só nos lembramos, vagamente, no dia 24 de dezembro, quando deveríamos nos lembrar o ano inteiro.

Foi por isso que me comovi: por ter lembrado "esse detalhe" em outubro, dois meses de antecedência. Graças à minha vizinha.

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A versão de Silent Night que vinha do outro apartamento tinha uma voz familiar. De uma cantora que já ouvi. Quando começou o violino, não tive dúvidas: era do grupo Celtic Women. Tenho um DVD delas. Procurei no youtube e achei: a mesma música que ouvi hoje de tarde. (Em pleno outubro.)


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