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domingo, novembro 01, 2009

POSTO QUE - PARTE 1
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Este post vai especialmente aos juristas, doutrinadores do direito, advogados e todas as pessoas da área júridica. Porque nunca vi uma classe para usar tanto o termo "posto que" ... de forma tão equivocada.
Para começar, "posto que", caros juristas, não significa "visto que", como vocês pensam. "Posto que" está mais para "ainda que", "embora". Por aí já notamos uma grande diferença.
Gramaticalmente falando, "visto que'' é uma conjunção explicativa. O gramático Domingos Paschoal Cegalla ensina: "conjunção é uma palavra invariável que liga orações ou palavras da mesma oração", e a conjunção explicativa é a que "precede uma explicação, um motivo". Exemplos de conjunções explicativas: "que", "portanto", "pois" "visto que", "porquanto" etc. Esse tipo de conjunção, a explicativa, é uma conjunção do tipo coordenativa: "liga orações sem fazer que uma dependa da outra".
Por outro lado, existem, também, as conjunções do tipo subordinativa - "ligam duas orações, subordinando uma à outra". São, na explicação de Cegalla, conjunções que traduzem circunstâncias ("causa, comparação, concessão (...)" etc). E é na conjunção subordinativa que encontramos as conjunções concessivas, onde aparece o termo "posto que". Vejam exemplos de conjunções concessivas, retiradas da Gramática do Cegalla:

Célia vestia-se bem, embora fosse pobre.
A vida tem um sentido, por mais absurda que possa parecer.
Fez tudo direito, sem que eu lhe ensinasse.

E, agora, vejam uns exemplos com "posto que":

Ele vai começar a pintar o prédio, posto que não haja tinta suficiente.
Posto que seja frio nesta época do ano, vou entrar no mar.
"O dever acima de qualquer coisa, posto que sejam coisas santas" (Padre Pio, que usou a frase com "ainda que", e eu aproveitei para substituir pelo "posto que", sem nenhuma alteração do sentido.)

Pecebam que até o tempo do verbo que acompanha tal conjunção muda: não fica mais no indicativo, mas no subjuntivo. Portanto, não poderia escrever a frase deste jeito: "Posto que é frio nesta época do ano, vou entrar no mar".

Fiz questão de escrever este post, pois, desde que entrei para a área jurídica, não paro de encontrar "posto que" colocado de forma errada. E isso em textos onde encontramos termos eruditos do tipo: "hodiernamente", "açambarcar", "emulação" etc. Cheguei a pensar que haviam mudado a regra e que meus professores de português do colégio, que tanto frisaram para a gente não usar "posto que" como "visto que", estavam equivocados e obsoletos. É, cheguei a duvidar de meus nobres professores da língua portuguesa... Mas na semana em que estava comentando isso com um dos meus irmãos, na mesma semana, ele teve uma aula de português com um professor no cursinho para a OAB. E o que o professor disse? Posto que não é "visto que", nem "pois", nem "porque". Voilà!

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Ainda assim, busquei informações a esse respeito na internet. Vi uma professora dizendo que se pode usar "posto que" como conjunção causal, devido ao uso moderno. Bom, que eu saiba, nem o uso 'equivocado-mas-insistente' tornou aceito esse uso. Pelos gramáticos que li, essa "regra" ainda não vigora e, em conseqüência, a antiga regra, a correta, ainda não "foi revogada" - para usar um linguajar jurídico. Portanto, "posto que" continua sendo uma conjunção concessiva. Aqui você pode ler um site que acabei de encontrar na internet, e que fala, justamente, desse engano cometido pelos juristas.

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E os famosos versos do Vinícius de Moraes? (Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure). Meus valentes professores de português diziam que estes versos foram os responsáveis pelo equívoco que muitos cometem com o uso de "posto que". Mas as pessoas esquecem que o Vinícius tinha... licença poética.

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EM ESPANHOL, SIM!

A confusão, também, pode ter vindo de nossa língua irmã, pois, em espanhol, puesto que é "porque", "pois", "visto que", e se usa com o verbo no indicativo. Mas, segundo gramáticas desse idioma, "puesto que" é uma conjunção subordinativa causal, e não uma conjunção coordenativa explicativa (o que, sinceramente, nem sempre é fácil diferenciar uma explicativa de uma causal). Puesto que come mucho, será gordo.
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