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domingo, março 14, 2010

ANNEs E HÁ BERTHAs MASON
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A literatura tem disto: nos faz conhecer tipos humanos. E quando conhecemos certos tipos humanos apenas pela literatura, temos uma boa noção de como é o personagem pela imaginação. Mas quando conhecemos esse tipo humano que só conhecíamos pela literatura na vida real, aí não é mais a imaginação que está falando por nós - é o reconhecimento desse tipo humano.
Às vezes leio alguns personagens e me pergunto se já conheci alguém desse jeito. Tem personagens que sim; outros que não. Mas as combinações humanas são enormes, então alguém pode parecer, aos meus olhos, um personagem literário, mas com certas variações no comportamento.
Já falei da Anne, de PERSUASÃO, e de como conheci alguém como a Anne - ou que poderia se inspirar mais nela. No mês passado lemos JANE EYRE no grupo Chá com Jane Austen e marquei várias passagens do livro. Uma delas foi a dramática descrição de Rochester sobre como a mulher com quem ele se casou se transformou. Fiquei bem impressionada e me pergunto se alguém já conheceu uma Bertha Mason ou um caso Rochester-Mason. Acompanhe:
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A mulher me envolvia: e, antes que eu soubesse em que terreno pisava, o casamento se realizou. Quanto me desprezo ao recordar isso! Não lhe tinha amor, não a estimara nunca, nem sequer a conhecia! Não me certificara da existência de uma única virtude na sua natureza: nem modéstia, nem benevolência, nem candura, nem finura de espírito e de maneiras - e casei-me com ela, grosseiro, abjeto, toupeira, imbecil que eu era! (...) Eu nunca tinha visto a mãe de minha esposa. pensei que já estivesse morta. Depois da lua-de-mel, verifiquei o engano: era apenas louca, e vivia internada num hospício. Lá também estava o irmão mais moço, mudo e idiota completo. (...) Mesmo quando percebi que o seu gênio era totalmente diverso do meu; que os seus gostos me pareciam censuráveis; que o seu espírito era de trama vulgar, rasteira, estreita e singularmente inapta a alçar-se a fosse o que fosse de mais elevado, incapaz de se expandir num âmbito mais amplo; mesmo quando descobri que ao lado dela não podia passar confortavelmente uma só noite, uma simples hora do dia; que entre nós a palestra cordial se tornava insustentável, porque qualquer que fosse o assunto que eu escolhesse, provocava imediatamente respostas grosseiras ou banais, corruptas, ou cretinas; mesmo quando percebi que não conseguiria ter um lar tranqüilo e estável, porque não havia empregado que suportasse as contínuas explosões do seu gênio violento e irresponsável, ou a hjumilhação das suas ordens absurdas, contraditórias e mesquinhas - mesmo então me contive. (...)
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Assim, igualzinhos na descrição, ainda não conheci nenhum Rochester, nem nenhuma Bertha. Mas sei que não gostaria de estar na pele de nenhum dos dois. E aí está uma outra vantagem da literatura: nos mostrar bons e maus exemplos. Pois se dizem que só quando temos consciência de um defeito é que podemos mudar, então, observando os defeitos dos personagens, podemos vestir nosssas carapuças e fazer um exame de consciência. Estou mais para a sensata e amadurecida Anne ou mais para a perturbada Bertha (ui!) ?
É um exemplo, pois dá para fazer isso com todos os personagens que nos chamam a atenção.
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