<$BlogRSDURL$>

domingo, junho 27, 2010

Fiquei de colocar este post aqui nessa semana:
.
Estou começando o romance de Henry James: RETRATO DE UMA SENHORA. O prefácio já é ótimo. Henry James conta como foi escrever esse livro enquanto esteve em Veneza. Querem saber? Deixo que ele mesmo responda:

(...) e o incessante burburinho humano de Veneza chegavam-me pelas janelas, e para elas parece-me que
estava sempre sendo atraído, na irrequieta infecundidade de sua composição, como para verificar se, lá fora, no canal azul, a nau de alguma sugestão acertada ou de alguma frase mais bem colocada no próximo entrelaçamento feliz de minha trama, no próximo traço verdadeiro de minha tela, não poderia ser avistada. Porém, recordo-me com suficiente nitidez que, em geral, a resposta mais freqüente para essas atrações inquietas era a advertência bastante sombria de que lugares românticos e históricos como os que abundam na Itália oferecem ao artista um auxílio discutível à concentração, quando não são eles próprios o objeto dela. São ricos demais em sua vida própria e carregados demais de significados para se concentrar em contribuir com uma frase canhestra; eles arrastam o artista de sua pequena interrogação para as grandes questões que propõem; dessa maneira, depois de um tempo ele percebe que apelar a esses lugares em sua dificuldade é como pedir a um esquadrão de gloriosos veteranos que o ajude a capturar um mascate que lhe devolveu o troco errado.
(...)
Como é possível que lugares que falam tanto à imaginação em geral não ofereçam, naquele momento, a coisa específica que ela deseja? Lembro-me de ter me rendido repetidas vezes a esse assombro em lugares bonitos. A realidade, penso eu, é que eles expressam demais sob tal apelo - mais do que, no caso, o interessado poderia usar; dessa maneira, vemo-nos trabalhando com menor congruência, afinal de contas, em relação ao quadro que nos rodeia, do que se estivéssemos na presença do moderado e do neutro, aos quais poderíamos, talves, emprestar parte da luz de nossa própria visão. Um lugar como Veneza tem orgulho demais para tais caridades; Veneza não empresta, ela nos dá quase tudo com magnificência. Nosso proveito com isso é enorme, mas para tal devemos estar em férias ou a serviço exclusivo dela (...).

Comments:

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter