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domingo, outubro 09, 2011

ESPANHA EM TRÊS ATOS
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A pedido (insistência!) de um amigo (*), vou compartilhar estes três fatos observados na Espanha.
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#Primeiro ato#
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Janeiro de 2011. O tenor Plácido Domingo completa 70 anos. A rainha Sofia, para comemorar o aniversário desse ilustríssimo espanhol, organiza um grande jantar para ele no Teatro Real.
A festa é dentro do Teatro e somente para convidados. Mas, "representantes da plebe" (ou seja, o povão mesmo!), sabendo desse jantar, ficam do lado de fora, na esperança de que o ilustre aniversariante mostre as caras, dê algum espetáculo.
Detalhe que não posso esquecer: estava friíssimo! A temperatura, certamente abaixo dos 3 graus Celsius (bem abaixo...). Um frio cortante e incômodo por causa da secura do ar.
Mas havia uns corajosos ali, apesar do frio, apesar da noite, apesar da falta de convite para o jantar real, apesar de o Plácido Domingo não saber da presença deles.
Mentira! Ele sabia que havia um público corajoso do lado de fora. Então, já tarde da noite, o tenor foi para o balcão do Teatro. Saiu todo agasalhado, com a garganta protegida e cantou MADRID, MADRID... Era o que o público queria. E foi o que bastou para a plebe voltar para o calor de sua casa, mais contente e ainda mais orgulhosa de seu grande artista.
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#Segundo ato#
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Toledo. Uma das cidades mais encantadoras que já vi. Notas musicais vinham em desarranjo de uma escola de música. Parece que todas as crianças da cidade tinham aula de música naquele horário, pois todas iam àquela direção, carregando instrumentos musicais, de mãos dadas com pai ou mãe. Minutos depois, as notas musicais se harmonizaram e ressoaram pelas ruelas medievais, nos envolvendo com um fundo musical puro e cheio de paz.
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#Terceiro ato#
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O meu guia de viagens, Antonio Machado, quando lhe perguntei qual o melhor roteiro de viagem, me respondeu com os seus versos: caminante, no hay camino, el camino se hace al andar. Segui esse conselho tanto quanto pude. Prova disso é que resolvi conhecer Segóvia (que não estava nos planos), na última hora, mais precisamente, no último dia da viagem!
Gratíssima surpresa: Antonio Machado, um dos melhores poetas espanhóis, e um dos meus favoritos, havia morado em Segovia e dado aulas por lá. A cidade, depois soube, tem uma gratidão enorme por ele. Já lhes conto o porquê. Antes, vejam a estátua do poeta na Plaza Mayor de Segóvia:
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(foto retirada do site de turismo português Trivago)
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Agora lhes conto o porquê da gratidão de Segovia por Antonio Machado. Segundo nos contou a guia do Museu Antonio Machado (sim! outra surpresa em Segovia!), por iniciativa do poeta, ele e outros intelectuais se reuniam semanalmente para ensinar a população carente da cidade. Eles iam, de forma totalmente voluntária, ensinar a população a ler, a escrever, a ouvir e a tocar música erudita, a conhecer os clássicos da literatura. Esses encontros atraíam cada vez mais gente da cidade. E hoje, filhos e netos dessas pessoas dizem que os antepassados deixaram de ser analfabetos, graças a Antonio Machado e seus amigos.
Vocês não imaginam como esse exemplo do poeta me tocou. Alguém conhece um intelectual brasileiro que faça o que ele fez? E faça essa caridade de forma limpa, com cultura de verdade, sem ideologia venenosa por trás?
Antonio Machado, com esse exemplo que eu desconhecia, me deu uma lição que não quero esquecer.
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(*) Esse amigo tem razão: andamos tão carentes da boa cultura, que bons exemplos devem ser mostrados e copiados.
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AH! O episódio do Plácido Domingo, vocês podem ver neste vídeo: AQUI.
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