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sábado, outubro 15, 2011

VIAGENS À INGLATERRA E À IRLANDA - me referindo às feitas por Tocqueville!
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Já comentei de relance sobre esse livro, mas ele é tão bom que merece um post!
Considerações iniciais: é o primeiro livro completo que leio do Alexis de Tocqueville. Até então, só tinha lido alguns ensaios dele, e a maioria sobre democracia. Por esses ensaios, eu o considerava inteligente, mas, agora, com este livro, eu o acho brilhante!
Mas vamos ao que interessa: não sei vocês, mas eu sempre aprendi melhor história quando a estudava indiretamente. Explico: aprendia menos na escola e mais por conta própria, quando eu queria entender um assunto específico. Dou um exemplo: lembro que assisti à trilogia da Imperatriz Sissi, da Áustria. Um pouco depois, assisti à versão Sissi de Luchino Visconti - uma Sissi bem mais "crua" que a romântica Sissi daquela trilogia -, e, então, quis me localizar na história: estudei sobre o império austro-húngaro, as guerras dessa região, cheguei ao Francisco Ferdinando, sobrinho da imperatriz, então, obviamente, à Primeira Guerra Mundial e, logo, à Segunda Guerra. Tudo para entender onde "entrava" a imperatriz Sissi nessa história. Dessa forma, todo esse período ficou mais claro na minha cabeça do que quando era jogado de uma forma solta e desconexa na escola.
Com esse livro de Alexis de Tocqueville, o VIAGENS À INGLATERRA E À IRLANDA, foi a mesma coisa: com os seus relatos lúcidos e bem escritos, entendi melhor a Inglaterra e a Irlanda do século XIX. Mas também consegui encaixar outras peças, graças às informações que ele vai deixando ao longo do texto. Querem alguns exemplos? Aí vão:
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- A primeira "lição" que aprendi com Tocqueville foi que os ingleses eram mais tolerantes com as mães solteiras que os franceses. Parece uma informação boba? Pois eu tinha acabado de assistir ao seriado OS MISERÁVEIS, baseado na obra de Victor Hugo (*), e esse detalhe me fez entender por que Fantine "comeu o pão que o diabo amassou". Se Victor Hugo fosse inglês, e Fantine idem, OS MISERÁVEIS talvez tivessem um desenlace diferente.
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- Por que houve Revolução Francesa, mas não houve uma revolução igual na Inglaterra? Porque, na França, além de todo abuso cometido pela aristocracia, só existia aristocrata de nascimento, enquanto, na Inglaterra, havia 'de nascimento' e 'por aquisição'. Quer dizer, na Inglaterra, quem se tornasse bastante rico, poderia comprar seu título de nobreza, então, os que não eram nobres de nascimento, não criticavam tanto os que o eram, pois poderiam se tornar nobres também e participar das mesmas rodas sociais.
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- Uma reflexão interessante de Tocqueville: "É do espírito francês não suportar superior. Do espírito inglês é aceitar inferiores. O francês está sempre erguendo os olhos acima de si com inquietude. O inglês os abaixa com complacência. Isso tanto da parte de um quanto do outro é orgulho, mas compreendido de maneira diferente..."
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- Briga dos protestantes com os católicos na Irlanda: não tinha como não surgir o IRA e todos aqueles espetáculos sangrentos que vimos, anos atrás, ocorrer na Irlanda. Quando Tocqueville esteve na Ilha Esmeralda, observou as rivalidades que ocorriam entre uns e outros. A Inglaterra praticamente jogou os protestantes dentro da Irlanda e lhes deu todos os direitos políticos, retirando todos os direitos dos católicos. A religião católica, subjugada, passou a ser, também, um partido político. Era questão de honra.
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- Ainda sobre os protestantes e os católicos da Irlanda: é interessante ver como o Tocqueville chega bem imparcial ao país. O que mais gostei nele foi essa sinceridade na busca pela verdade. Em mais de uma passagem, ele diz que quer ver onde está a verdade: se com os católicos da Irlanda ou com os protestantes. E, interessante: mais para o final do livro, notamos que ele foi ficando do lado dos católicos. Também pudera: a desigualdade entre católicos e protestantes era gritante: católicos morrendo de fome (morrendo mesmo!) e morando em casebres, enquanto protestantes esbanjavam riquezas. Mas outro dado interessante: alguns católicos, quando enriqueceram, viraram as costas ao seu povo: com posses materiais, eles queriam ser como os aristocratas ingleses. Vários padres entrevistados pelo pensador francês afirmaram: aqui, quem ajuda o pobre é o pobre. É o pobre que deixa de comer duas batatas para dar uma ao vizinho faminto. (Isso me tocou bastante!)
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- E falando em batatas: o imposto do terreno era tão caro que os irlandeses pobres só podiam cultivar um pequeno pedaço de terra. O alimento mais produtivo - e que mais rendia em um espaço minúsculo - era a batata. Na época da fome, coitados, muitos irlandeses adoeceram porque comiam a batata antes de ela amadurecer totalmente.
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- Em uma passagem do livro, Tocqueville comenta que passou por uma cidadezinha irlandesa miserável. As casas não tinham nem janela; era só porta. Tocqueville só comenta isso. E daí? Pois eu fiquei contente por ter lido isso, pois sei o motivo de as casas só terem porta. É que, faz pouco tempo, fiz um trabalho sobre impostos e encontrei uma curiosidade: na Irlanda, lançaram um imposto sobre as casas, e seu valor era proporcional ao número de janelas que cada casa possuía, ou seja, quanto mais janelas na casa, maior o imposto. O que aconteceu? Os irlandeses construíram casas sem janelas. Conseqüência? Milhares de pessoas morreram de tuberculose. Eu li essa curiosidade, e o Tocqueville a confirmou para mim.
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- Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...!: Durante todo o livro, Alexis de Tocqueville defende a liberdade do povo. Vejam que contundente esta reflexão: Para ser livre é preciso saber conceber uma empreitada difícil e perseverar nela, ter o costume de agir por si mesmo; para viver livre, é preciso habituar-se a uma existência repleta de agitação, de movimento, de perigo; vigiar sem cessar e dirigir a todo instante um olho inquieto em torno de si: a liberdade tem esse preço. Então, no parágrafo seguinte, ele elogia a força da Inglaterra, suas conquistas, a segurança das leis, suas riquezas. Diz que tudo isso é fruto da liberdade.
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(*) O seriado é com o ator Gérard Depardieu. São quatro capítulos, de uma hora e meia cada um. Comecei a assistir ao primeiro. Quando terminou, estava doida para ver o segundo. Então quis ver o terceiro e o quarto. (**) Resultado: foi um sábado em que passei seis horas seguidas, sentada no sofá, vendo a história de Jean Valjean. O seriado está excelente! Recomendo!
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(**) Algo assim, até então, só tinha me acontecido com o seriado Band of Brothers, em que passei um final de semana inteiro assistindo aos capítulos, sem fazer mais nada.
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