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quinta-feira, maio 17, 2012

FALANDO EM CRÍTICOS...

Estou lendo o estudo crítico MACHADO DE ASSIS NA LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho, que se encontra no primeiro volume da obra completa de Machado de Assis (Editora Nova Aguilar). E eu que estava falando de críticos, me deparo com um texto de crítica literária; um texto mais formal, mas excelente!
Costumo ser lenta nas minhas leituras, ainda mais quando se trata de algum texto ou livro mais profundo: tento absorver cada palavra e, quando aparece algum trecho que eu acho bonito, bem elaborado ou com boa mensagem, releio umas tantas vezes. Esse estudo feito por Afrânio Coutinho tem me exigido esse tipo de leitura lenta. Porém gratificante: fico feliz por estar lendo um texto tão bem escrito como o dele. Nem me incomodo de ainda estar na página 26 do primeiro volume, sabendo que tenho mais de 1200 páginas pela frente. O que Coutinho escreve, e como ele escreve, vale algumas relidas.
Vou compartilhar com vocês os trechos que mais me chamaram a atenção até agora:

Primeiro prosador da língua e maior e mais completo homem de letras do Brasil, Machado de Assis atingiu a essa culminância ao longo de 50 anos de uma fecunda e austera carreira literária. O fenômeno é que o aparecimento de um escritor e de uma obra com as qualidades peregrinas que os distinguem, no meado do século XIX, em uma sociedade que não oferecia as mais comezinhas condições adequadas, negando, destarte, os postulados do determinismo biológico, social e econômico, é um mistério só explicado pelo poder do espírito, que sopra onde quer.
Mas se será, talvez, afirmar demais repetir a tese de Buffon de que o gênio é uma longa paciência, não é, de todo, falso asseverar que no caso de Machado de Assis a paciência constitui a metade do seu gênio. Inimigo do diletantismo e da improvisação, tendo por máxima "aprender investigando", estudou com perseverança, meditou os clássicos e os modelos da língua e dos gêneros, dos quais recebeu as leis da arte literária e com as quais aprimorou o instrumento expressional e a poética do idioma; disciplinou o temperamento, a inspiração e a imaginação; não teve pressa nem cedeu à sedução da facilidade (...)

Certo vezo brasileiro de encarar o artista como um produto espontâneo e precoce não dá lugar para se compreender que a arte é a resultante de longa paciência, de esforço continuado de pesquisa, estudo, reflexão. Machado de Assis é um exemplo disso. Sua maneira não surgiu abruptamente, desde o início, na juventude virgem. Foi o produto da experiência acumulada, do estudo e trato dos grandes modelos, da obediência às regras e às disciplinas do ofício. Seu progresso foi constante e ascensional. (...)


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