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sexta-feira, maio 04, 2012

MAIS SOBRE APRENDI COM JANE AUSTEN
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Vou confessar a vocês: amo ORGULHO E PRECONCEITO, RAZÃO E SENSIBILIDADE e PERSUASÃO. Gosto muito de EMMA. Gosto de a A ABADIA DE NORTHANGER. Mas tolero MANSFIELD PARK. 
Desses seis livros, este último é o único que fez eu "me arrastar" na leitura. Acho que ele é meio apático - talvez porque sua heroína é meio apática, ao contrário das outras heroínas.
No entanto, William Deresiewicz, em seu livro APRENDI COM JANE AUSTEN - COMO SEIS ROMANCES ME ENSINARAM SOBRE AMOR, AMIZADE E AS COISAS QUE REALMENTE IMPORTAM, conseguiu tirar lições preciosas de MANSFIELD PARK, o que me deu vontade de reler esse romance.
Para vocês terem uma idéia: William atribui à MANSFIELD PARK a lição de aprender a "ser autêntico". Ele conta que, na época em que leu esse livro, andava com um grupo da alta sociedade de Nova Iorque. Ele não era da alta sociedade, mas andava com eles por causa de um amigo que namorava uma socialite. O autor diz que achava aquele mundo fascinante, mas começou a perceber que, quando estava com pessoas daquele meio, não era ele mesmo: sempre tinha um comentário "divertido" pra agradar aos outros, mas nunca entrava em uma conversa mais profunda, nunca falava de seus problemas, nunca ouvia os problemas dos outros e ninguém, ninguém mesmo, parecia ser carente! E o tal grupo só o procurava quando queria ouvir as piadas. Se ele não aparecesse por lá durante semanas, ninguém o procurava. Ele também começou a notar certas mesquinharias: mulheres que terminavam o namoro porque o cara não sabia se vestir bem e "arranjavam" um "palerma de terno" pra mostrar pras amigas; homens se casando com mulheres só porque elas eram de família "com nome e sobrenome", embora fossem apaixonados por outras etc. O próprio amigo de Deresiewicz, que não era da alta sociedade, deu a entender que estava com aquela socialite por motivos, digamos, menos amorosos e mais financeiros. 
William Deresiewicz percebeu que estava "se vendendo", e que o sentimento da solidão pode nos fazer agir de formas que não correspondam ao nosso verdadeiro eu. Foi aí que ele tirou uma importante lição de Fanny: ela era solitária, teve seus momentos de insegurança, de ciúmes, de tristeza, mas não quis participar da peça de teatro junto com os outros! Ela continuou ajudando os outros, conversou com os visitantes de Londres, mas não se tornou fútil como eles.
O autor de APRENDI COM JANE AUSTEN diz que aprendeu, também, a importância de ser útil aos demais, no sentido de ajudar os outros, prestar-lhes atenção. Aprendeu que, para isso, basta, às vezes, ouvir o que o outro tem para contar: seus problemas, seus sonhos, seus relacionamentos com a família etc. É disso que nasce uma verdadeira amizade, e não de simples encontros onde só se conta piada, e só se espera ouvir piada. A amizade nasce da atenção, da preocupação com o outro e da confiança. Foi o que Edmund fez com Fanny quando lhe disse "Vamos dar um passeio no parque, e aí você poderá me contar tudo sobre suas irmãs e seus irmãos". Edmund falou isso por ter percebido que Fanny estava triste, com saudades da família.
William escreve em seu livro: Edmund entendia perfeitamente que escutar as histórias de uma pessoa é aprender seus sentimentos, experiências, valores e hábitos mentais (...). Não era à toa que Austen era romancista: ela sabia que são nossas histórias que nos fazem humanos, e que escutar as histórias dos outros - penetrando em seus sentimentos, validando suas experiências - é o jeito mais elevado de lhes reconhecer a humanidade, a mais doce forma de utilidade.
O autor conta que, depois disso, começou a fazer um esforço deliberado para ser útil às pessoas: fiz o exercício de me sentar e ficar calado ouvindo - ouvindo realmente. (...) As histórias das pessoas são o que elas têm de mais pessoal, e prestar atenção a estas histórias é certamente a coisa mais importante que você pode fazer por elas. 
Não deve ter sido fácil para ele, pois, cá entre nós, há pessoas que a gente até evita escutar - ou porque são muito fofoqueiras, ou porque são muito negativas/reclamonas, ou muito convencidas etc -, mas acho que o que ele quis dizer foi isto: para ser autêntico, é necessário sair da superficialidade de conversas "prontas" para adentrar na profundidade das histórias pessoais. 

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