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sábado, dezembro 01, 2012
"A PRECISÃO NOS OBRIGA"
.
Lá estava eu no ponto de ônibus quando chegou uma moça muito simples e ficou olhando para o mar (que fica atrás do ponto). Reparei que ela olhava fascinada, até que uma hora puxou conversa comigo:
- A polícia prende se nadar nesta praia?
Respondi que não, imagina, meio surpresa com esse tipo de dúvida.
Mas ela questionou:
- Mas não é proibido entrar?
Expliquei que proibido não era, mas que recomendavam que a gente não entrasse porque a água está suja.
E ela:
- Ah, é porque tem um homem nadando ali. Eu achei que ele ia ser preso...
Daí ela parou de olhar para o mar e se sentou ao meu lado. Perguntou se eu morava por perto. Como fico incomodada quando um estranho começa a me fazer perguntas pessoais, perguntei, com a maior delicadeza do mundo, mas tirando a atenção de mim:
- Você é de onde?
Ela me disse que era do interior do Ceará e que nunca tinha visto o mar porque o mar só tinha em Fortaleza. Também contou que estava morando aqui e trabalhando de faxineira em uma clínica médica.
Em seguida, quis saber por que ela tinha vindo de tão longe. E foi então que ela disse a frase que ressoou na minha cabeça o dia inteiro:
- A PRECISÃO NOS OBRIGA. Eu passava fome lá na minha terra. Daí vim com o meu marido e o meu filho, pra ver se a gente tem sorte aqui.
Ainda trocamos mais algumas palavras no ônibus e, depois, não a vi mais. Mas o tal do "a precisão nos obriga", não sei por quê, ficou martelando. De onde ela tirou esse "precisão"? Que neologismo é esse que eu nunca tinha ouvido?
Pois cheguei a casa de noite e resolvi olhar no dicionário. Surpresa, surpresa! E não é que o "precisão" da moça-simples-que-passava-fome foi usado de forma corretíssima?! O primeiro significado para "precisão", no Pai dos Burros (a bênção, pai!), é justamente: "carência do necessário; necessidade". Ou seja, frase mais perfeita, impossível! Que lição de humildade acabara de ter. Estava achando a frase estranha, inventada, talvez por vir de uma moça simples que não conhecia o mar, mas, no entanto, era uma frase precisa. "A precisão nos obriga". Aliás, parece frase literária, não acham? Imaginei Machado de Assis escrevendo algo assim. Ou Graciliano Ramos. "A precisão nos obriga": meus ouvidos tinham estranhado, mas agora gostam de ouvir essa frase.
E porque temos precisão de um bom português (tão maltratado esses dias, coitado), compartilhei esse episódio com vocês, caros leitores.
.
Respondi que não, imagina, meio surpresa com esse tipo de dúvida.
Mas ela questionou:
- Mas não é proibido entrar?
Expliquei que proibido não era, mas que recomendavam que a gente não entrasse porque a água está suja.
E ela:
- Ah, é porque tem um homem nadando ali. Eu achei que ele ia ser preso...
Daí ela parou de olhar para o mar e se sentou ao meu lado. Perguntou se eu morava por perto. Como fico incomodada quando um estranho começa a me fazer perguntas pessoais, perguntei, com a maior delicadeza do mundo, mas tirando a atenção de mim:
- Você é de onde?
Ela me disse que era do interior do Ceará e que nunca tinha visto o mar porque o mar só tinha em Fortaleza. Também contou que estava morando aqui e trabalhando de faxineira em uma clínica médica.
Em seguida, quis saber por que ela tinha vindo de tão longe. E foi então que ela disse a frase que ressoou na minha cabeça o dia inteiro:
- A PRECISÃO NOS OBRIGA. Eu passava fome lá na minha terra. Daí vim com o meu marido e o meu filho, pra ver se a gente tem sorte aqui.
Ainda trocamos mais algumas palavras no ônibus e, depois, não a vi mais. Mas o tal do "a precisão nos obriga", não sei por quê, ficou martelando. De onde ela tirou esse "precisão"? Que neologismo é esse que eu nunca tinha ouvido?
Pois cheguei a casa de noite e resolvi olhar no dicionário. Surpresa, surpresa! E não é que o "precisão" da moça-simples-que-passava-fome foi usado de forma corretíssima?! O primeiro significado para "precisão", no Pai dos Burros (a bênção, pai!), é justamente: "carência do necessário; necessidade". Ou seja, frase mais perfeita, impossível! Que lição de humildade acabara de ter. Estava achando a frase estranha, inventada, talvez por vir de uma moça simples que não conhecia o mar, mas, no entanto, era uma frase precisa. "A precisão nos obriga". Aliás, parece frase literária, não acham? Imaginei Machado de Assis escrevendo algo assim. Ou Graciliano Ramos. "A precisão nos obriga": meus ouvidos tinham estranhado, mas agora gostam de ouvir essa frase.
E porque temos precisão de um bom português (tão maltratado esses dias, coitado), compartilhei esse episódio com vocês, caros leitores.
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