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terça-feira, setembro 17, 2013

Posto que todos digam o contrário... 


Eu sei, caro amigo, que você ainda duvida de mim. Não o culpo. Com tantas vozes de peso dizendo o contrário, é difícil acreditar em alguém que é apenas uma latino-americana sem dinheiro no bolso.
Eu reconheço que não sou nada ("nunca serei nada/ não posso querer ser nada...") (*), mas sei o que estou falando. E você, meu caro, no fundo sabe também. Se você acionar sua memória, fará uma viagem às suas aulas de Português no colégio, mais especificamente, à aula em que sua querida professora falou do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes. Então, você irá recordar que foi ali que ouviu, pela primeira vez, a expressão "licença poética". Após ter ouvido essa expressão, sua abnegada professora explicou que, somente por ter a licença poética, é que o poeta usou a locução "posto que" de forma errônea. E tenho certeza de que essa mesma professora ainda falou como era a maneira correta de se usar "posto que" no dia-a-dia, quando você não é poeta e não está escrevendo poesia.
Lembrou? Pois estou certa de que, no fundo, você sabe que lembra e que aprendeu. Mas, como uma virtude, você precisa estar muito convicto dela para que as vozes e os exemplos externos não o intimidem de a praticar. Sei que, no caso do "posto que", é uma pressão tão grande para usá-lo de forma errada, que você fica até com vergonha de usar corretamente. É aquela história: de tanto ver triunfar o uso incorreto dessa locução, o homem chega a desanimar-se de seu uso correto, a ter vergonha de usá-la corretamente... 
É por isso que, mais uma vez, venho reforçar o uso gramaticalmente correto de "posto que". Quem me ajuda, neste post, é o gramático Domingos Paschoal CEGALLA, no livro Dicionário de DIFICULDADES da língua portuguesa:

Posto que. Locução equivalente de ainda que, se bem que, embora: "Era o primeiro a entrar no jardim, e pisava firme, posto que cauteloso." (Carlos Drummond de Andrade, Obra completa, p. 439) / "Posto que estivesse mais ou menos a par da situação, Emília, vendo a irmã em tal estado, começou também a oferecer resistência." (Ciro dos Anjos, O amanuense Belmiro, p. 137) / "Abismo sem fundo e caldo quente são expressões aceitáveis, posto que redundantes em face da etimologia." (Mário Barreto, Novos estudos, p. 309) / "Pode crer-se que a intenção de Mateus era ser admirado e invejado, posto que ele não a confessasse a nenhuma pessoa." (Machado de Assis, Papéis avulsos, O Alienista, cap. V) / "Afinal chegamos a uma edificação bastante alta, posto que só tivesse um andar." (Camilo Castelo Branco, Serões de São Miguel de Seide, II, p. 37) - Esta locução não tem o sentido de porque, visto que. Não serve, portanto, para exprimir ideia de causa. (grifos meus)

(*) Como continua Álvaro de Campos: "À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".

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